E eis-nos de novo chegados a mais um fim, desta feita o do
ano de 2014. Tempo de podermos fazer um balancete, para usar o “economês” da
moda e do modo como tudo quanto administra bens parece merecer mais confiança
por parte dos cidadãos. A pontos de que quase se exija a quem esteja à frente
de um governo, local ou nacional, que tenha de ser economista ou gestor,
independentemente do bom senso que aplique nas suas decisões políticas. Albarde-se
o verbo à vontade da verba, podia ser a máxima dinâmica de quem não queira
perder o “comboio do progresso” da governação política.
Mas o conceito que me traz hoje ao final de 2014, no
costumeiro estrangeirismo, terá a ver com a quadra festiva com que se assinala
um aniversário celestial e um fim de ano terreal. 365 dias são muitos dias para
lembrar e a memória, para o bem e para o mal, tem a sua seleção especial que os
edita de jeito personalizado, à vontade do freguês. É que na quadra festiva em
apreço, entre os estados de alma, coração e a carteira – a de cada um e a do
erário público – as manifestações exteriores de celebração são quase sempre
assunto de conversa. À volta de luzinhas, bolinhas, enfeites e vozes angelicais
em altifalantes, discutem-se os gostos como se discutem clubes ou fé,
dificilmente chegando o debate a conclusão que sirva a quem tem de decidir-se
por esta ou aquela solução, mais ou menos criativa, mais ou menos em modo de
moda. Certo é que tudo está condicionado aos constrangimentos que envolvem
“pão” e “palhaços”, para lançar mão à linguagem do maior espetáculo do mundo,
pelo menos em cada Natal. Falo do circo, bem entendido, não, ainda, de videomapping que é o que se chama às
projeções de imagens nos monumentos. Pão e circo podem ter de existir em
alternância e sem pão não há palhaços, nem circo. Tudo linguagem afetuosa para
o dinheiro, esse grande motor da sociedade em que vivemos, e os seus modos de
uso nos quotidianos de lazer e fruições estéticas.
Em Évora já houve fausto nos enfeites natalícios, pois já. E
nem eram com intenções eleitoralistas, não senhor, pois recordo-me muito bem do
Natal de 2009, três meses depois de eleições autárquicas, e o último em que os
eborenses arregalaram os olhos para as iluminações e patinaram no gelo na Praça
como nas grandes capitais, esquecendo até a restante programação que, essa sim,
se mantém há anos, com um esforço dos que ainda se associam, mesmo à mingua de
pão e mais ou menos contrariados, mas que, enfim, em época de paz na terra lá
exercem, sabe-se lá com que esforço, a sua genuína boa vontade. Mas vamos ao
estrangeirismo final de 2014.
O conceito de copyleft,
usado sobretudo na informática, pode traduzir-se por “permitida a cópia” e é resultado
de um trocadilho da outra palavra mais conhecida e oposta, o copyright, que se refere aos direitos de
autor. O copyleft defende a ideia de
que uma obra não deve ter direitos exclusivos e pode, inclusive, receber o
contributo de várias pessoas, que passariam a ser coautores, aperfeiçoando a
criação original. Ora eu tenho para mim, que também tive responsabilidades no
assunto do Natal nas ruas de Évora, que ficaram de herança duas ideias ao
completo abrigo, porque também já eram ideia velha de outros lugares, do copyleft: uma, tomada por medidas de
contenção, foi a grande árvore de Natal reutilizável, e reutilizada, feita
integralmente pelos serviços municipais; outra, que apenas deu um arzinho da
sua graça por estes dias (talvez para a foto!), e que tanta falta fazia neste
ano particularmente gelado, e na minha modesta opinião está bom de ver, que era
o madeiro a arder. À volta dele tínhamos sempre o “Beato Salú”, o “Rambo”, o
“Quito Cigano”, figuras conhecidas de todos e que com a sua estranha forma de
vida nos confrontam diariamente com as nossas derrotas num nunca acabado
esforço de integração e coesão social, uma luta interminável da civilização. E
a eles se juntavam todos quantos quisessem, partilhando um calor que para
muitos seria mais do que simbólico. Aquela grande fogueira, tradição mais rural
é certo, e que tem origem nos cultos pagãos de celebração do solstício de
Inverno, lembraria a muitos habitantes da cidade a infância distante e
permitiria que os mais novos percebessem a partilha como o mais importante
motivo da quadra natalícia. Tudo copyleft!
Um bom 2015 e até para a semana.