Há
naturalmente notícias que nos interessam mais do que outras. Foi o que
aconteceu a semana passada nas notícias divulgadas a partir de um comunicado da
Câmara Municipal de Évora. O assunto era a Rede de Judiarias de Portugal e a eleição do município de
Évora para os seus órgãos sociais. Já agora acrescento para informação dos
ouvintes e leitores, e para nos irmos limitando a factos, que é o que
normalmente um órgão de comunicação institucional deve fazer, que foi eleita
para último vogal do Conselho Fiscal. Mas, entretanto, aliás no mesmo dia do
comunicado da CM, houve declarações à Lusa sobre este ato eleitoral que se
tinha realizado em Belmonte, sem que tenham sido convocadas as entidades
regionais de turismo do Centro e do Porto e Norte, pelo que, e cito «denunciou
hoje o presidente do Turismo do Centro, Pedro Machado, que reclamou a nulidade
do voto». Parece que este presidente admitiu recorrer a uma providência
cautelar caso não sejam repetidas as eleições, para as quais aquela entidade
não foi convocada Afinal, tendo tido eu um papel no assunto desde há dois anos
era natural que me interessasse pela notícia e procurasse saber mais. E
aproveito agora para relembrar alguns detalhes, que não serão pormenores, antes
“pormaiores”, neologismo que me agrada bastante.
Foi mais
propriamente na Assembleia Municipal de dezembro de 2011 que foi aprovada por unanimidade a
integração de Évora nesta rede, acabada de ser constituída. Facto: as eleições
de 2013 são por isso as primeiras dos órgãos sociais para que Évora poderia ser
convidada, e foi, fruto seguramente do prestígio de Évora e do trabalho que se
adivinhava profícuo para a sua integração ativa na rede. Foi, nessa sessão da
AM, com a declaração de uma saudosa investigadora da cultura judaica da
Universidade de Évora, deputada na altura, que foi alertada a CM por ser, e
cito, «o caso de Évora estranho, porque se conhecia muito do ponto de vista
científico, mas pouco no plano turístico, lembrando que esta atividade poderia
ser um recurso económico, nomeadamente de carácter religioso, não olvidando que
a cidade se encontrava no roteiro de muitos grupos vindos de Israel, dos EUA ou
de França, não existindo na Câmara local, segundo sabia, qualquer preocupação
em se produzirem brochuras especializadas ou na feitura de sinalização
adequada, que pudessem rentabilizar tal património.». Manifestou ainda um
desejo: «tendo o [município] de Évora sido convidado para o efeito, [esperava]
que este tivesse vontade política para agarrar a oportunidade, promovendo
vários eventos». Estávamos em dezembro de 2011, discutia-se o orçamento de 2012,
onde a promoção de eventos se teria de limitar aos apertos que todos
conhecemos. Mas o que fizemos pôs-nos, como se vê agora, no bom caminho.
Com a
entrada na Rede, foram inúmeros os contactos feitos com parceiros, incluindo a
integração de uma comitiva oficial, para a sua divulgação em Israel, corria o
mês de fevereiro já deste ano, resultado de um trabalho que ainda que
silencioso e interno, começava a dar frutos. A divulgação de Évora foi
importante ao ponto de estarem programadas diversas iniciativas, que não sei se
se realizarão, relacionadas com o turismo judaico e religioso. E também se
continuaram as negociações, encetadas em 2012, com representante dos muitos
herdeiros de um espaço para albergar a Casa da Cultura Judaica Diogo Pires,
espaço aliás já alvo de inúmeras e longas intimações pelo estado de degradação
e constituição de perigo para a segurança pública. Um exemplo recorrente no
centro histórico e que os eborenses conhecem bem. A boa notícia que tivemos, só
já em setembro deste ano, é que efetivamente haveria verbas, 280 mil euros,
para podermos fazer propostas concretas e arrancar com o projeto.
Lamentável é
que um comunicado oficial da CME venha com o discurso que, os mais atentos já
deram conta, vai sendo feito por outros executivos camarários que o PCP
conquistou de novo nestas autárquicas e que é, ao melhor estilo de Relvas,
desculpar o não-feito ou a não-fazer com o feito antes. Mas que espécie de
notícia oficial de uma instituição com o mínimo de sentido de estado afirma,
com recurso a inverdades, ainda por cima, que «Nada disto se concretizou, em
tempo útil, por razões que a razão desconhece e que terão de ser imputadas ao
anterior executivo.»? Enfim, diz tudo sobre o seu autor…
Mas falta
ainda a dita citação com que me comprometi nesta série de crónicas. A propósito de propaganda, já que foi a
utilização desta técnica que despoletou os meus comentários e informações, cito
Sinclair Lewis, o primeiro americano premiado com o Nobel da literatura, que diz
com ironia: "A propaganda é um fator económico valioso porque é o meio
mais barato de se vender bens, especialmente se os bens não valem nada."