As
siglas são cada vez mais usadas quer no discurso oral, quer no escrito. E
saindo sobretudo de campos específicos em que poderiam ser consideradas um
jargão próprio de uma actividade, invadem o mundo do discurso corrente. Umas
vezes usadas por quem até já nem consegue com precisão desenvolver a sigla e
refazer as palavras que lhe deram origem, outras parece que usadas de forma que
até nem se entenda muito bem o que querem dizer. Também é verdade que o uso
corrente, popular e familiar que fazemos de uma língua vai transportando para a
norma, ou pelo menos para uma aceitação tolerante, erros que se cometem face a
uma regra por inerência rígida, precisa e com uma história que a explica. A
palavra ou conjunto de letras que vos trago hoje, após uma semana de desgraça
provocada pelo terrorismo e de crise política pela situação extrema da Grécia,
parece estar a propósito, e confundir-se com uma sigla: SOS.
SOS
é um código, universal, de socorro, uma mensagem rápida e facilmente entendida para
alertar quando se está em situação de perigo de vida e se necessita de auxílio
rápido. Mas as letras SOS não significam mais nada para além disso.
Muitas
vezes “explicada” como sendo uma sigla de expressões como Save Our Ship ("Salvem
nosso navio", em inglês), ou mesmo Save
Our Souls ("Salvem as nossas almas"), essas relações, até
metafóricas, só foram criadas para ajudar as pessoas a lembrarem-se das letras
do código. Não resultando de nenhuma expressão e tratando-se de um grupo de
letras que não significam absolutamente nada, o código em si é inconfundível. O
sinal foi criado no início da Era da Radiotelegrafia, em 1906, quando as
comunicações eram feitas principalmente por código Morse, e o SOS era o
conjunto de letras mais fácil de reproduzir e menos difícil de confundir.
Antes
de surgir o SOS, o código de alerta usado era o CQD, que também não possuía
nenhum significado e foi escolhido por ser formado por letras que juntas não
dariam margem para qualquer outro tipo de interpretação. Porém, escrever CQD em
código Morse não era nada prático. O SOS só foi oficializado em 1908, mas era
comum utilizarem-se os dois códigos. Em 1912, por exemplo, quando o Titanic
afundou foram emitidos sinais de socorro em SOS e CQD. Valeu-lhes de pouco…
De
qualquer modo, mesmo se o código Morse já está em desuso desde 1999, ano em que
o sistema de comunicações marítimas terá deixado de ser oficialmente esse, o
SOS continua aí. Usado com mais ou menos frequência por e para situações de
maior ou menor perigo, a sua banalização ou utilização com propriedade e rigor
vai, algumas vezes e cada vez mais, dependendo também da maior ou menor
capacidade de os cidadãos se organizarem e conseguirem chamar a atenção de quem
possa e queira ajudar às situações de real emergência ou urgência. Longe vão os
tempos do Morse ou das mensagens em garrafas, mas persistem os perigos que,
directa ou indirectamente, a Humanidade, ou parte dela, continua a infligir a
si própria.