De
forma particular este ano, fico satisfeita pelo facto de a minha crónica ir
para o ar num dia 25 de Abril, quando termino um ciclo e recomeço outro, que a
vida não pára e anda depressa. Foram oito anos em que estive directamente
ligada a funções políticas públicas neste Portugal democrático, neste Alentejo
do interior do rectângulo mais ocidental da Europa, nesta Cidade – ela também
maravilhosa como a outra lusófona – que transpira a grande História e resiste
pequenina, persistentemente, à mudança de ciclos, para o bem e para o mal. Mas
deixemos as questões individuais. Não que elas não sejam importantes para falar
da Liberdade, já que não podemos falar dela sem falar de Cidadania, ou Política
como queiram. E esta é feita de e para indivíduos, nos seus modos diferentes de
só a apregoar ou de, efectivamente, nela actuar.
Aos
43 anos de Liberdade instituída, Portugal, o Alentejo e Évora têm cada vez mais
Cidadãos que se assemelham aos do resto do Mundo. Quer queiramos ou não, crenças
e fés à parte, todos devemos tudo ao Sul, à África, a esse pedaço de terra que
transpira em tradições perpetuadas, outra vez para o bem e para o mal, e onde,
ou para onde, parece que teremos sempre de voltar para medir o nosso progresso
enquanto Humanidade e percebermos o tanto que há ainda por fazer. Mas mesmo
nessas diferenças, também intercontinentais, somos todos espécimes de uma
imensa espécie, a humana.
Com
a Liberdade instituída passámos, naturalmente, às instituições as
responsabilidades. Mas cada vez mais nos “encostámos” a elas, esquecendo que
também elas são feitas da mesma matéria de Cidadãos como nós. E esquecemos que
usar a Liberdade, num sentido colectivo, é também saber usar essa faculdade que
é o livre-arbítrio, uma possibilidade de escolher, sempre, mesmo quando não se
vive em Liberdade. Quando pomos a uso o livre-arbítrio sentimo-nos, e seremos,
seres humanos livres. E saber usar é coisa que requer, para além da natural
inteligência de cada um, o auto-domínio, esse que, mesmo posto em prática, não
nos evita sermos por vezes reféns das nossas emoções mais feridas e, como tal,
incómodas. Com a vivência plena da Liberdade instituída surge, nos tempos
contemporâneos, uma tendência reflectindo desgaste do seu uso: a proliferação
das teorias da conspiração. Exercícios que requerem, e muito, o uso da
inteligência mas que são, normalmente, resultado – transparente nos discursos e
atitudes – das ditas emoções ameaçadas ou feridas. E tão anti-Liberdade...
Haverá
algumas chaves para evitar essas perniciosas teorias da conspiração que, como
está visto, atingem já indivíduos eleitos para governar no Novo Mundo, e que
servirão para combater esse uso, exacerbado, descontrolado e tão massificado,
da louvável, até historicamente, inteligência céptica. Avançarei duas. Não há
teoria que resista se não houver provas, evidências, que não cabem a cada
indivíduo apurar e é um fardo que recai sobre as instituições; se o tentarmos
tomar isoladamente, como se fossemos os únicos inteligentes e capazes de o
fazer, sem a humildade necessária, afastamo-nos até ainda mais dos que,
excepcionalmente, foram um dia os cépticos inteligentes que mudaram o Mundo e
fizeram evoluir a Humanidade. E depois. a confiança básica que é abalada pelo
medo, esse sim uma emoção que a História já nos mostrou que, em formato
colectivo, foi tão prejudicial à Humanidade, sujeitando esse colectivo a uma
existência próxima do, ou mesmo, miserável.
A Liberdade
requer benevolência inicial com exigência constante àqueles que escolhemos,
conscientemente claro, para serem os que garantem os nossos direitos e nos
exigem os nossos deveres. Uma difícil mistura equilibrada entre dúvida e
confiança. Bem-vindos à Vida, bem-vindos à Liberdade!