29.7.13

Crónicas-parágrafo do estio 2013

3. Ser político não é, para muitos, uma profissão. Diz-se que fulano ou
sicrana “foram para a política” como se tivessem ingressado numa ordem
religiosa ou mudado para um continente longínquo. Assim é difícil
achar e convencer os outros de que o político é um cidadão com
responsabilidades, direitos e deveres portanto, que tem muito em comum
com os que vão para dirigentes de uma associação, para a direção de
uma escola ou de um clube, ou para a frente de um condomínio. É
verdade que as escalas são diferentes, mas trata-se nos diferentes
casos de gerir bens comuns. Se muitos dizem que preferiam ser
governados por quem não é político, para quê permitir que alguém que,
fingindo não o ser no poder ou na oposição, não terá outra missão ou
função se não a de gerir a "polis" e, por isso...ser político?

22.7.13

Crónicas-parágrafo do estio 2013

2.
É sempre desarmante quando os nossos preconceitos, mesmo os que temos contra vontade, caiem por terra. Às vezes desarmam-nos aliviando-nos, outras deixando-nos sem chão. Em temporadas eleitorais e propagandísticas foram-se habituando os cidadãos a promessas. Pagas antes da urna algumas, adiadas para sabe-se lá quando outras. Ora esta temporada está a ser sui generis. Quem quer tomar o poder fecha-se em copas e, a par da lupa que põe nos defeitos, faz carreirinhas seguras na onda da crise. Quem está no poder (alguns pelo menos) e consciente da crise, em vez do favorzinho que muitos procuram, vai dando explicações de como funcionam as coisas que dão origem a que certos problemas, e às vezes só esses, possam ser resolvidos e por quem. E que só quando puderem ser resolvidos é que serão. Quando não são, não é por falta de vontade. Quando são é porque tinham de ser e não por especial favor. Dramático, para quem em vez da solução a pronto que o poder da chantagem parece ter, tem de esperar e contentar-se com informação (eu cá mesmo que não me resolvam os meus problemas, como os de saúde por exemplo, fico sempre mais aliviada quando me explicam o porquê das coisas e como com elas conviver e sinto-me logo melhor!). É muito aborrecido lidar com a desilusão… foi o que me aconteceu quando comecei a lidar, politicamente, com alguns alinhados em forças ideológicas de que, liricamente, eu tinha uma visão tão bonita… 

15.7.13

Crónicas-parágrafo do estio 2013

1.
Este verão vai ser-me diferente. Sem férias, com sete pelouros a cargo, numa cidade cujos habitantes se dividem, ou melhor “trividem, entre os que, à semelhança do que fazem em suas casas fazem fora delas e querem a cidade limpa e com bom ambiente, e são tantos; os que só se preocupam com o que é seu e não percebem que o que é de todos é também deles e, por isso, atiram o lixo dos seus bolsos para o meio da rua ou levam o seu cachorro a fazer as necessidades à porta dos outros, até quando essa porta é uma das da Cidade; e os outros, poucos mas com muito estardalhaço e dolo para o bem público, que numa noite dão cabo de vários aspersores de rega, estragam dezenas de tampas de caixotes de lixo, arrancam sinais de trânsito, desalinham pedras de calçada e ainda penduram dichotes quando as grades que alertam para que, como diz o código da estrada, o condutor adapte a sua condução ao estado da via, cumprem essa mesma função. É assim um verão pré-eleitoral em Évora, com a sombra do passado retrógrado (olha, lembrei-me do Voldemor e dos Devoradores da Morte do Harry Potter que li de atacado aqui há uns valentes verões atrás!) a querer tapar o Sol quente que nos dá a conhecer, Évora e o Alentejo, ao Mundo. Viva o Sol!

9.7.13

PROMETER IV

E voltámos a chegar ao fim de mais uma série de crónicas, com os ares do verão a empurrarem-nos para o ócio mais do que para o negócio. Este verão será novamente especial para quem vai a votos, quase ainda também no verão, força de um calendário empurrado, ao que parece, por um orçamento já aprovado, apesar do debate prometer ser quente em torno do mesmo. Enfim, todo o verão promete, inclusive o climatérico.

Prometer é pois, num balanço desta minissérie de crónicas, e sempre disponível para aceitar outras leituras, um verbo que serve sobretudo para insultar quem o pratica. Curiosamente, a sua não prática também. Ai do político que não prometa fazer isto ou aquilo, já que retira a esperança às pessoas…! Aliás, as pessoas precisam, com ou sem promessas, de soluções. Às vezes esquecem-se é que também fazem parte delas…

Depois há aquelas promessas que visam o negócio, mas o negócio mesmo e não aquela gestão que devia ser pública e que afinal só serve alguns. Mas essas promessas parecem fazer parte de um jogo com regras entendidas e subscritas entre quem vende e quem compra. Será por, nesses casos, poder haver lugar à devolução ou à troca? Mas num sistema democrático também, através das eleições! Será por haver livro de reclamações? Mas o espaço público também está aberto a várias plataformas e ferramentas para reclamar! Ou será porque de um negócio, ou na relação comercial, já estamos habituados a que o lucro maior vá sempre só para um dos lados, enquanto nas questões de governação democrática qualquer um pode ter-lhe acesso mas só alguns se submetem a lutas várias, confrontos díspares, internos e externos, entre inimigos e adversários, e tantas vezes para acabar, nessa arena, emprateleirado ou no anonimato?

Quando há quatro anos uma pessoa amiga me pintou um cenário apocalíptico da vida na política, confesso que fiquei surpreendida porque não era a inveja ou outro mau sentimento que a fazia falar. Não a contrariei nem me assustei, apenas a ouvi como ouvi sobretudo os mais chegados em cada nova etapa da minha vida, tipo casamento e maternidade, em que, qual ritual de iniciação, eram mais os avisos do que os parabéns de circunstância. Passados quatro anos, essa mesma pessoa percebeu que os dissabores que me prometia, e cá está este outro significado do verbo «prometer» que se aproxima mais do «avisar», eu já os devia conhecer e por isso apenas, e como teve significado para mim, me deu uma palavra, novamente sincera, de incentivo. Senti um pouco que aquilo que eu não lhe prometera há quatro anos, a fazia agora acreditar que o compromisso não me assusta e que não me tinha deixado arrastar para terrenos pantanosos.

Estes “avisos-promessa” são talvez os mais úteis que nos podem dar. São as cautelas, que como os caldos de galinha mal não fazem. São os alertas, que ao contrário dos “incentivos-promessa” nos fazem perceber que nem tudo o que luz é ouro e que não estamos para aventuras nem regressos ao passado que tão depressa esquecemos, às vezes, para mal dos nossos pecados. São os avisos-promessa que contam com o conhecimento que temos do que fazemos, que partilhamos com os outros, procurando no bom-senso dos outros o nosso senso e sentido para a ação. São estes avisos-promessa que eu vou querer ouvir e vou, quando assim for necessário, querer dizer àqueles que se comprometem comigo e com quem eu me comprometo. Vai ser assim o meu verão. Desejo-vos a todas e todos também um bom verão.  

PROMETER III

Outra forma de prometer é o da reivindicação e da contestação, também em nome de um coletivo. Promete-se a luta, promete-se o não. Falo de reivindicações sem negociação, nem contrapartida. Falo de contestações sem ação proactiva e apenas como reação ao que indigna e nos parece que está mal. E por vezes está mesmo. Fica a prova não apenas em números ou estatísticas, mas em casos que conhecemos do dia-a-dia, ou da família até.

Essa promessa encapotada, na minha opinião, é a que faz da infelicidade dos outros um megafone para atrair até nós mais. E tantas vezes nós sabemos que quem empunha o megafone está a milhas de distância da dose de desgraça dos outros. Também é verdade que mesmo à escala e com todo o relativismo, quando se queixam em seu nome próprio se arriscam ao insulto dos que ainda têm forças para insultar. Nestes tempos que atravessamos assistimos muito, demais, a casos em que quem empunha o megafone não é menos malquisto do que os que são o alvo da contestação e revolta. Às tantas, nestes climas de guerra que se acirram, quem lá vai ou manda ir também se arrisca a apanhar uns balázios. Perigoso, muito perigoso. Não pelo medo da luta, nem de dar o peito às balas, mas quando à luta se juntam outros interesses e quando só na luta se encontra um modo de vida próprio e de que todos começam já a desconfiar.

Em casos mais distantes dos que reivindicam pelas necessidades básicas de um ser humano, a contestação assume nessa promessa encapotada uma espécie de amostra da demagogia que usa o «Não!» como único discurso de contrapoder e que rapidamente, quando se chega a um certo poder ou dá jeito, se esquece.

Nestes casos está a recém e disparatada, sobretudo pela forma como foi feita, reorganização das freguesias que levou, sob a capa da união, a uma óbvia extinção de algumas. Se algumas populações, sobretudo as mais distantes dos centros urbanos, onde essa distância já constitui uma dificuldade a vários níveis, se indignaram de facto, houve logo quem indignado pela medida, acima de tudo pouco democrática, já que ninguém fez dela uma promessa, aí está, eleitoral e por isso submetida a escrutínio popular. Resumindo, ninguém disse que se fosse governo extinguia freguesias, nem mesmo o que já deixaria entrever alguma mudança eventualmente de forma mais participada, algum tipo de reforma do género no território.
Enquanto uns continuam a enxamear de cartazes esse «Não!», prometendo afinal não sei o quê mais se não a luta em si, outros fizeram da luta uma contramedida e comprometem-se, prometendo claro, nas próximas eleições autárquicas que no caso das Uniões de Freguesias vão a votos dois cabeças de lista, e cada um de cada uma das freguesias que queremos manter assim mesmo, organizadas e prestadoras de um serviço que para quem vive à volta do Terreiro do Paço é coisa de somenos importância. É assim: uns prometem perpetuar a luta, outros comprometem-se a permitir às populações que o que vem de cima e não zela pelos seus interesses, também coletivos, não percam ainda mais condições que garantam, apesar de tudo o resto, o seu melhor bem-estar.