Os Eborenses
andam num sino com o primeiro centro comercial digno desta classificação que
abriu na Cidade. Andam num sino os que gostam destes lugares, que lá vão e lhes
dão vida. Andam num sino os que gostam e encontram nesta obra, feita por outros,
mais um motivo para poderem pôr a bombar a sua sempre saliente veia do escárnio
e maldizer. Ainda bem que os Eborenses, e talvez outros Alentejanos dos
arredores, estão contentes. Claro que aqueles para quem é fácil deslocarem-se
aos hiper centros comerciais instalados nas grandes cidades, e para quem Évora
devia continuar a ser a “aldeia gaulesa” de Portugal, esta é uma alegria alheia
e farão tudo para fazer de conta que não existe ou gritar a sua indiferença ao
lugar, ao lado de outros para quem este equipamento pode beliscar os negócios
perpetuados numa tradição que apregoam estática, contra toda a ciência
produzida em torno do que são e como funcionam as tradições.
Por falar de
“aldeia gaulesa”, reparei que a Cidade está desde há cerca de um mês, em
período pós-eleitoral portanto, com forte investimento em estruturas básicas,
mas também ornamentais, adjudicadas a orçamentos de dinheiros públicos e
locais. Falo dos pavimentos das estradas, mas também do crescimento dos
enfeites da época, coisas que não são propriamente praticáveis com meia-dúzia
de trocos. Tal como seria caro fazer obras de fundo em escolas, por exemplo, e
não se faz, ora porque umas vezes se tem projecto mas não se tem financiamento,
ora outras vezes porque até se tem um financiamento simpático mas o projecto é
coisa para talvez não caber nos planos de um serviço municipal, quiçá escasso
em arquitectos e engenheiros. (É nesta parte que quem conhece a situação de que
falo pode sorrir e quem não conhece pode perceber que é uma piada.)
Os mais
imediatistas, e os que contribuíram para que a equipa que gere esses orçamentos
se mantivesse, pensarão sobre estes investimentos pós-eleitorais: “Ora aqui
está, a seriedade de quem não fez obras antes das eleições para angariar
votos!”. Respondem por isso ao isco lançado por quem procurava exactamente esse
conforto. Eu cá tenho outra leitura, claro, já que andei oito anos a perceber
como funcionam certas formas de pôr as tácticas ao serviço das estratégias de
poder, e digo cá para mim: “Pois, como é que se podia andar a dizer que lhes
tinham deixado tudo nas lonas, a zeros, impossível de aplicar um cêntimo em
alguma coisa, e agora desatar a fazer coisas que custam dinheiro?!”. Quanto
mais afastados estivermos das razões que se evocaram para a mudança, mais fácil
lhes será retomar o ritmo da despesa, obviamente, esperando que não tenha que
haver uma que tenha de ser uma despesa gigantesca mas enterrada e longe da
vista e do coração dos que dela usufruem, como é a da água que corre nos canos.
Não chego ao ponto de dizer que nos devamos marimbar para essas contas, não
senhor, até porque fazer contas, ou não, foi o que permitiu à formiga passar o
próximo inverno a tocar marimbas e poderá fazer com que a cigarra não passe
deste inverno. Mas há investimentos que não têm como não ser regateados só até
ao ponto de não se tornarem insustentáveis.
Era só. E agora vamos ali ao Plaza passear, consumir,
usar, dar a opinião onde nos pedem e pode ser acolhida, que é para não fazermos
a vontade aos arautos da desgraça, os que anunciam sempre vários acidentes
apocalípticos transitórios, caso o lugar descambe para o que nós, os outros que
ficam contentes e partilham a alegria, não queremos.