«Não fazer
absolutamente nada é a coisa mais difícil do mundo, a mais difícil e a mais
intelectual.» Quem o disse foi Oscar Wilde e pareceu-me uma boa citação, em
absoluto, e bem propositada para encerrarmos este ano de crónicas e irmos de
férias.
Se as férias
para a maioria são, pelo menos durante alguns momentos do dia, tempo de ócio,
certo é que não fazer nada, acordado, é todo um desafio para nós mortais. Claro
que a ironia da frase de Wilde está bem explícita no facto de se equiparar o
pensar ao não-fazer, equívoco que é mais epidémico do que seria desejável à
espécie humana que se distingue precisamente das outras espécies animais por
pensar.
Também me
parece verdade que pensar e fazer apenas uma outra coisa ao mesmo tempo é a
habilitação mínima de um ser humano com todas as capacidades básicas ativas,
muito embora um eurodeputado comunista tenha desconfiado dessa capacidade no
novo presidente da comissão europeia, num episódio, vá fait-divers, de uma arrogância constrangedora. Mas adiante.
Às mulheres,
diz-se, cabe o dom de fazerem mais destes malabarismos do que aos homens. Tendo
a acreditar no que considero um elogio ao meu género, mas faço-o porque me
parece mais provável na latitude e longitude onde vivo e não porque ache que
seja um facto assim tão universal. Fazerem, mulheres e homens, várias coisas ao
mesmo tempo em que uma delas é pensar, deixa-me equacionar duas hipóteses: ou
se fazem coisas que exigem pouca reflexão e continuamos, por isso, a fazer o
que é do pensar com toda a intensidade; ou aplicamos o pensar ao que estamos a
fazer. Se na primeira hipótese separamos os dois mundos mas desconcentramo-nos
forçosamente de um deles, na segunda aplicamos o pensamento ao que estamos a
fazer e, como tal, o resultado será sempre se não pelo menos melhor mais
justificado e assente numa determinada lógica seguida. Mas a sociedade encara
muito mal quem não faz nada. Se calhar, e com toda a pertinência, porque os que
fazem são taxados por isso. E por isso, com a evolução civilizacional, se terá
equiparado o pensamento à ação numa coisa legal que se chama “propriedade
intelectual”…
É que a
atividade em si de pensar e não usar o que resulta do pensamento é muito
parecida, a olho nu, do pensar e contribuir com esse pensamento para um bem
maior do que nós e comum aos que nos rodeiam. E quando isso acontece, mesmo
continuando a incompreensão por parte de muitos, é um trabalho muitíssimo
importante.
E é por isso
que a frase de Oscar Wilde é uma espécie de exercício que proponho que
experimentem, sem com isto desejar que durante as férias não deixem de fazer,
como todos merecem e alguns às vezes conseguem, o que chamamos “descansar a
cabeça”. E às vezes isto, só se consegue se cansarmos o corpo.
Desejo-vos,
quando for caso disso, uma boas e ativas férias, em que o fazer nada possa ser
um desafio ao pensar muito, ou pelo contrário, o fazer muito signifique pensar
pouco. Até setembro.