Há momentos e situações nas nossas vidas em que nos sentimos
outsiders. E há aqueles que fazem disso o seu modo de se dizerem que estão no
mundo e como vivem em sociedade. É-se outsider ou porque nos fazem, ou porque
procuramos sentir isso mesmo. O outsider pode ser um marginalizado, e aqui com uma
carga negativa que a palavra traduz, mas se assim é, é-o sempre da perspetiva
dos que estão dentro do grupo a que não o deixam pertencer. O outsider pode
também ser um desalinhado, desta feita mais definido pelo lado do próprio, até
com uma espécie de orgulho em ser diferente, de querer remar contra a maré, e não
achar piada a multidões, mais ou menos viradas para o mesmo lado.
Os dois extremos parecem-me muito desagradáveis, ora porque é
claramente discriminatório, ora porque é impeditivo de passarmos o tempo que
nos cabe nesta vida ao lado de muitas mais coisas do que as que certas
inevitabilidades nos obrigam a passar. Não precisamos de ser marginalizados nem
de gritarmos o nosso desalinhamento para querermos estar de fora de certas
situações. Por outro lado, reconhecer que se está in ou out de algum grupo
é reconhecer-lhe os limites e saber cumpri-los. E é por isso que nas áreas das
ciências humanas e sociais é, por exemplo, tão difícil estudar algumas
religiões e sociedades ou associações de pessoas, algumas tão fechadas que se
dizem secretas. Por outro lado, é inegável que só os membros de certos grupos
possuem, nesse território e assunto, acesso privilegiado ao conhecimento, aos recursos
e à própria autoridade. E que os que estão outside,
isto é, os de fora, pelo mesmo motivo, têm menos ou nenhum acesso.
Neste domingo que passou, em Portugal, muitos tiveram a
oportunidade de exercer um direito que não é dado por todas as associações de
pessoas em torno de ideologias e princípios, e que são neste caso os partidos.
Muitos que não querem, porque não estão interessados em ter esse acesso
privilegiado ao que se passa dentro de um partido, tendo por isso sobre ele, em
princípio e quando se levam as coisas a sério, conhecimento, recursos e, de
certa forma dependendo de circunstâncias várias, autoridade estatutária (já que
a moral não depende deste tipo de limites), muitos puderam fazer-se ouvir
dentro desse partido, aquele com o qual se identificam politicamente, dando-lhe
o voto e até mesmo a cara por ele.
O Partido Socialista fez História no dia 28 de setembro de
2014 no Portugal democrático. E porque é nos princípios deste Partido que me
revejo, fiquei contente com o facto. Senti-me uma outsider inside que, tendo
uma opinião pessoal, não a quis assumir publicamente, porque quando se votam
pessoas e não programas ou propostas, aprendi ao longo da vida, o voto não é de
braço no ar. Lamentavelmente, percebemos com esta primeira experiência o quanto
o debate resvalou para questões de caráter, avaliáveis em medidas e
conhecimento dos envolvidos de forma muito mais difícil, para não dizer
impossível. E até porque, independentemente do resultado, o que me interessava
era que, finda a contenda interna que fica, espero, já no passado, não se
desvirtue no futuro este espírito inovadoramente democrático que caracteriza o
Partido pelo qual, aliás, já por duas vezes fui eleita pelos cidadãos eborenses.
Como fiquei contente quando alguém de dentro de um órgão do
Partido, que eu não sei, nem precisava de saber, de que lado das duas propostas
que me faziam no boletim de voto estava, me pediu para colaborar se necessário no
processo desse ato histórico, no próprio dia. Os teóricos da abertura dos
Partidos à sociedade, que afinal servem, tiveram a sua primeira aula prática.