4.11.14

Budget season

Budget é um termo da língua inglesa que significa orçamento e que é frequentemente utilizado no meio empresarial em inglês para referir o orçamento periódico feito por uma empresa, normalmente para um ano, onde são inseridas variáveis de custos, as chamadas receitas e despesas, definindo um plano de contas. Sendo assim, o budget é normalmente o plano base para início da atividade num novo ano e, apesar de ser um documento técnico, acaba por tornar-se um plano estratégico, não só para durante um período determinado, como para um planeamento futuro.
Assim sendo, o orçamento de um governo objetiva na prática o planeamento das ações de quem governa, os seus objetivos, as suas metas e prioridades, respondendo àquelas que são as necessidades e, talvez até expetativas, da comunidade de eleitores, fazendo um equilíbrio entre o que está programado obter como receita e quais as despesas que deverão ser autorizadas. Podemos perguntar-nos, então: não deveriam os cidadãos ser cabalmente esclarecidos de todo este planeamento que se faz com o dinheiro de todos nós? É que basta olhar para os “calhamaços” de folhas de um qualquer orçamento municipal, para falar num nível que conheço, que nos interessa e que ainda assim, não sendo o orçamento de um Estado, tem um volume razoável de documentação, para se perceber como será precisa quase uma licenciatura na área para entender este exercício do poder governativo. E mais ainda quando sabemos que, contas feitas, as receitas e as despesas têm de ser iguais, pois este instrumento técnico prevê um cenário ideal: nem uma autarquia pode ter lucro que não seja aplicado revertendo para o investimento no bem-estar dos seus munícipes, nem pode ter prejuízo sob pena de, ao se endividar, o que legalmente parece ser proibido, ter de cortar em várias áreas. São essas áreas onde se investe quando há dinheiro e onde se corta quando não há que dão margem de manobra à ação política.
Um orçamento público municipal é um instrumento que pode e deve ser um elo entre quem tem o poder executivo e os munícipes, e não apenas entre o executivo e os que trabalham diretamente para esse executivo e que não têm só por isso o poder de representar as escolhas desses munícipes, já que estes elegeram o executivo mas não estão presentes no quotidiano do trabalho numa Câmara ou na própria organização dos seus serviços. Isto não significa desconsiderar esses serviços, antes pelo contrário, já que ao envolvê-los privilegiadamente no processo poderá significar torná-los quase cúmplices de um qualquer possível incumprimento do previsto num orçamento. Haverá seguramente, numa gestão, momentos mais virados para as questões internas que, aí sim, é importante de facto envolver os diretamente interessados.
É que importa, acima de tudo, tornar bem claro que uma Câmara Municipal, mesmo quando respeita, como inquestionavelmente acontece num estado de direito, os seus próprios funcionários, não trabalha para si própria mas para todos os munícipes. E que é sobretudo importante fazer sentir aos munícipes que o que é investido na própria máquina da Câmara deve reverter, e em muitos casos reverte, a favor de todos os outros munícipes.
Um orçamento é a oportunidade de ser um instrumento de transparência, de intervenção e de articulação, tornando-se transparente, eficiente e eficaz muito pelo facto de expressar ações de governo que traduzem as necessidades da sociedade em forma de ações efetivas e que respondam aos principais problemas da comunidade. E é por isso que, a nível local, e no fim de avaliadas que estão várias experiências quer a nível nacional, quer noutras democracias internacionais, já vai sendo tempo de envolvermos de facto as pessoas na política a partir da construção do orçamento. Estão já bem estudados e disponibilizados a quem se interessar os possíveis modelos a adotar em função de cada realidade. Falta só vontade política para o fazer.