Ainda na ressaca do maior espectáculo desportivo de uma
Europa politicamente com os níveis de fairplay
tão rasteiros, chegamos ao fim de mais uma série de crónicas. É, pois, altura
de alguns balanços. Foi uma série de crónicas marcada por um dos acontecimentos
mais significativos do panorama cultural português, ou não tivesse, por
exemplo, a honra de ter tido como seu principal comissário Eduardo Lourenço, e
que foram as comemorações do centenário de nascimento de Vergílio Ferreira.
Évora é indelével da sua vida e importava Évora não o esquecer. Uma vida que
ficou também, e para todos os que sejam ensinados a chegar-lhe, na sua enorme
obra filosófica e literária. E os que lhe reconhecem isto mesmo festejaram-no,
que foi o que também fez a Rádio Diana com esta série de crónicas que utilizou,
impreterível e semanalmente como inspiração, citações suas.
Foi o ano em que a nível nacional, as Esquerdas se uniram a
um Partido que não é, de certeza, de Direita para permitir um Governo a que, à
falta de nome para surpresa tal, ganhou o de Geringonça, num baptismo que
acabou por se tornar carinhoso quando, no início, parecia querer fadar à
nascença para o insucesso. E ela está na mão de alguns, dos verdadeiros “engenhocas”
que sabem da coisa, mas também dos que fazem que sabem mas não atrapalham, e
dos perigosos, os que poderão arrumá-la a um canto qual Bela Adormecida, e que
são os que achando que é mais do mesmo não largam os velhos paradigmas de fazer
política à medida de interesses próprios e não num prêt-à-porter que a Democracia, com todos os seus defeitos, nos
oferece. Uma situação que, esses mesmos profetas demagogos da desgraça que
querem meter no mesmo saco três forças políticas com identidades diferentes,
até como as duas a que geralmente pertencem tais profetas; uma situação que
localmente não faz nem uns ficarem mais rubros para ganharem votos, nem outros
empalidecerem só para os manterem, mas sim porque isto de estar no governo fia
mais fino e afina por outro diapasão.
A avaliação, que é o que normalmente acontece em dia de eleições,
terá de ser não entre promessas vagas do que será feito mas na atenção às
atitudes da responsabilidade que são exercer o poder ou estar na oposição. E os
Portugueses, como os Eborenses aliás, talvez devessem ficar mais atentos
efectivamente aos comportamentos não só dos que governaram e agora se opõem,
como dos que antes se opuseram e agora governam. E que dessa atenção pudessem
concluir o que quem é governado, e não os que militam nuns e noutros de forma
particular, e mesmo natural no que toca a ter uma agenda para o sucesso de uns
ou outros, entendam como melhores para ser governo ou oposição.
Enfim, a crónica já vai longa e ficaríamos aqui o resto do
dia a falar disto e daquilo, como num serão quente e quieto desses que acontecem
no interior do nosso país, de Norte a Sul. E não gostava de encerrar a série
sem, pelos afectos, esses que também contaminaram a versão “para o Povo e para
as Criancinhas” de fazer política e têm no novo PR um ícone, escolher uma
citação de Vergílio que, dizendo respeito ao íntimo, põe a nú a falácia das
palavras transformadas em metáforas mortas que nos tentam enformar os neurónios
e manter-nos sossegadinhos dentro da caixa. Escreveu um dia uma pergunta de que
gostei muito e me ensina a ir fazendo balanços de vida que, como todas as
outras e as dos outros, quantos mais princípios e fins tiver mais aprendizagens
nos proporciona. E assim me despeço, citando:
«Se não há amor como o primeiro, porque é que ele não é o último?».