O suspense é um artifício engraçado.
Normalmente associamo-lo ao cinema, mas de uma maneira geral acontece com a
ficção e depende de um enredo, pelo que também o há nos livros. É uma palavra
de origem inglesa que, curiosamente, ouvimos muitos mais portugueses a
pronunciar “à francesa”, o que me acontece a mim também. É uma situação que, no
momento em que está prestes a desaparecer, acompanhamos com uma espécie de banda
sonora - “tcham, tcham, tcham, tcham!” – que nos filmes tem também uma música
muito própria e que, se desligarmos o som, lhe aligeira bastante o impacto.
É vulgar que o suspense sirva para
fazer demorar um desfecho imprevisível. E é por isso que muitas vezes ouvimos
dizer, fora das páginas ou dos ecrãs, que se fez suspense sobre um determinado
assunto com o significado de criar uma expetativa interessada. O suspense é
assim uma espécie de técnica propagandística em que a omissão de detalhes e o
atraso do desfecho vão inchando de importância o facto sobre o qual se faz, ou
mais frequentemente, sobre quem o cria. E o que é engraçado é que nem sempre é
o próprio a dar a cara pelo suspense criado sobre si, havendo por vezes uma
espécie de “guarda avançada” que se encarrega de o fazer. Tudo boas encenações,
claro! Fico até convencida que há por aí muitos comentadores que têm esse posto
fixo na tal guarda avançada… Ah! e há também aquela outra prática que não sendo
suspense é da mesma família deste tipo de comportamento, e que é o “fazer
caixinha”.
Por outro lado, o suspense que
circula por aí dá azo ao “diz que disse”, diferente do boato que é uma mentira
e não uma dúvida que circula, mas que fazem uma dupla que serve bem a
desinformação e, como tal, alguns interesses. Também me parece que as diferentes
reações de quem é visado e se mantém com as atenções voltadas para si por
suspenses e boatos dizem bem sobre si próprios. Boatos ou não-ditos
catalisadores de interesses sobre assuntos que são meramente pessoais, do
domínio da privacidade de quem exerce cargos ou tem visibilidade pública, pouco
merecem como resposta, em meu entender, senão o silêncio. Já quando as
incertezas se criam e circulam sobre aspetos do exercício dessas funções
públicas, e se se mantêm em circulação sem explicações pelos visados, então é
porque o assunto não é claro, nem se pretende criar no espaço público uma relação
de confiança na transparência das atitudes e das posições assumidas.
Enfim, tudo situações que acontecem
um pouco por todo o lado e em todo o Mundo, nacional ou localmente, e que
contribuem para uma desconfiança generalizada e, algumas vezes, injusta, nos
políticos e nos que dirigem, por delegação do voto democrático, os destinos de
governação. Era preciso que este hábito ou tendência se fosse erradicando em
novas gerações… isto penso eu, em voz alta.