7.10.14

O suspense, esse inquietante catalisador de interesse

O suspense é um artifício engraçado. Normalmente associamo-lo ao cinema, mas de uma maneira geral acontece com a ficção e depende de um enredo, pelo que também o há nos livros. É uma palavra de origem inglesa que, curiosamente, ouvimos muitos mais portugueses a pronunciar “à francesa”, o que me acontece a mim também. É uma situação que, no momento em que está prestes a desaparecer, acompanhamos com uma espécie de banda sonora - “tcham, tcham, tcham, tcham!” – que nos filmes tem também uma música muito própria e que, se desligarmos o som, lhe aligeira bastante o impacto.
É vulgar que o suspense sirva para fazer demorar um desfecho imprevisível. E é por isso que muitas vezes ouvimos dizer, fora das páginas ou dos ecrãs, que se fez suspense sobre um determinado assunto com o significado de criar uma expetativa interessada. O suspense é assim uma espécie de técnica propagandística em que a omissão de detalhes e o atraso do desfecho vão inchando de importância o facto sobre o qual se faz, ou mais frequentemente, sobre quem o cria. E o que é engraçado é que nem sempre é o próprio a dar a cara pelo suspense criado sobre si, havendo por vezes uma espécie de “guarda avançada” que se encarrega de o fazer. Tudo boas encenações, claro! Fico até convencida que há por aí muitos comentadores que têm esse posto fixo na tal guarda avançada… Ah! e há também aquela outra prática que não sendo suspense é da mesma família deste tipo de comportamento, e que é o “fazer caixinha”.
Por outro lado, o suspense que circula por aí dá azo ao “diz que disse”, diferente do boato que é uma mentira e não uma dúvida que circula, mas que fazem uma dupla que serve bem a desinformação e, como tal, alguns interesses. Também me parece que as diferentes reações de quem é visado e se mantém com as atenções voltadas para si por suspenses e boatos dizem bem sobre si próprios. Boatos ou não-ditos catalisadores de interesses sobre assuntos que são meramente pessoais, do domínio da privacidade de quem exerce cargos ou tem visibilidade pública, pouco merecem como resposta, em meu entender, senão o silêncio. Já quando as incertezas se criam e circulam sobre aspetos do exercício dessas funções públicas, e se se mantêm em circulação sem explicações pelos visados, então é porque o assunto não é claro, nem se pretende criar no espaço público uma relação de confiança na transparência das atitudes e das posições assumidas.
Enfim, tudo situações que acontecem um pouco por todo o lado e em todo o Mundo, nacional ou localmente, e que contribuem para uma desconfiança generalizada e, algumas vezes, injusta, nos políticos e nos que dirigem, por delegação do voto democrático, os destinos de governação. Era preciso que este hábito ou tendência se fosse erradicando em novas gerações… isto penso eu, em voz alta.