Do latim cor (coração) "de cor e salteado": conhecer algo perfeitamente. Do latim color (cor) sensação produzida nos olhos por ondas eletromagnéticas de uma certa frequência.
25.10.22
Óleo de Girassóis
18.10.22
Aceitar e/ou Compreender
11.10.22
O sobressalto mediático
Foi no dia de aniversário do Tratado de Zamora, aquele em que se definiram os limites de Portugal que ainda são os de hoje, e no mesmo dia , 767 anos depois, em que se implementou a República; foi no dia 5 de Outubro que me dei conta de que o espaço público das crónicas de opinião da DianaFm tinha duplicado. Assinalo, com gosto, que os avanços democráticos, nisto de proporcionar igualdade de oportunidade de acesso, continuam a amadurecer nesta reputada cooperativa de comunicação.
E se festejo a iniciativa, dou as boas-vindas, em particular e em nome da tão valorizada proximidade, a quem passou a, paredes-meias, partilhar comigo as terças-feiras. Presume-se que, consequentemente, de quando em vez, quem nos oiça ou leia, assistirá no uso das palavras e do discurso, no fundo o exercício da razão, perspectivas diferentes com argumentos próprios, mas também oriundos de ideologias de base com as quais os indivíduos tendem a identificar-se. Ideologias propostas para se aplicarem políticas públicas na gestão do País, ou da Cidade, e na administração do que serve a vida das pessoas e da sociedade.
Se é o que presumo, e aproveitando o contexto de preparação do OE2023, o que eu sei é que, deste lado, tendo a olhar para as opções de gestão nacional, aceitando que a afectação de recursos de todos nós mantenha um sector público forte, que possa ajudar-me sempre que necessário, e um sector privado próspero que, em conjunto com o sector público sólido, contribua para que não sejam tantas vezes necessários os apoios públicos, e que se crie riqueza no nosso País. Já se percebeu que isto é tarefa difícil, tarefa monstruosa que se avizinha com o agigantar-se da inflação e das taxas de juro, os vilões da sociedade de consumo em que todos vivemos. Em cima deles, acresce que muitas das decisões de hoje, todas discutíveis, só se avaliarão mais tarde. Acontece muito e falta-nos a prática de “pós-monição”, muito mais acessível e disponível do que a da premonição.
Ora isto não serve quem precisa de estar sempre a anunciar “notícias de última hora”, nem quem precisa de ocupar espaço público no presente para condicionar a governação, às vezes qualquer que ela seja, e vir, talvez, a ser governo depois. Resultado: criam-se casos que o não são (sim, falo dos de Pizarro, da frota automóvel da TAP, do de Pedro Nuno Santos), escolhem-se adjectivos, comparações e exclamações que escondem as alternativas que não se tem coragem de dizer sinceramente que se aplicavam; ou até só, das antigas fotografias de fachadas, retocadas para parecerem novíssimas, se recorta quem se preocupou com o miolo e a alma dos lugares, tudo para levar a água ao moinho, como se fosse, e só pudesse ser, o seu. E acaba-se por fazer pairar, numa prática de ou aparente inconsciência, ou sub-reptícia intenção, ou tudo misturado, um arzinho a perigosas tentativas de descredibilizar a Democracia e manter, falsa e convenientemente, o nível de sobressalto dos media. É que às vezes basta ler mais do que os títulos das notícias, que nos berram aos olhos, mas as próprias notícias, que os esvaziam.
Ainda bem que na vastidão da planície alentejana os ecos tendem a não se propagar. Pena que vozes de explicações e argumentos, mais demorados, por lá também, demasiadas vezes se percam.
4.10.22
O véu diáfano da hipocrisia
A situação conflituosa no Irão é um sinal doloroso do impacto da globalização cultural. Doloroso e agridoce, embora mais “agri” que doce. Demorou a instalar-se, talvez o tempo de uma geração, entre a generalização crescente da comunicação e da informação a circular mais livremente entre cidadãos, a consciência de que há diferenças tradicionais identitárias que não correspondem ao que consideramos hoje humanismo. Não se trata já só sequer de feminismo, embora seja bom rever-se a enorme importância deste movimento, no fundamental, sobretudo quem considere que ser feminista é ver em qualquer homem um agressor. Não é.
Se há décadas foram surgindo, de forma algo inorgânica, denúncias da retrógrada condição feminina vivida em nações e comunidades que, para tal, evocam leis assentes pela religião constituída como instituição, a geração de jovens dos nossos dias, muito graças ao “bright side” da Internet, não me parece disposta a baixar os braços ou deixar de dar o peito às balas pelas hipócritas tresleituras de textos chancelados como divinos. Que a lute continue, em nome de um progresso humanista e para que os que nela tombaram não o tenham feito em vão. Um argumento, de resto, muito usado nas vidas dos santos mártires.
E debruçados sobre o hijad, o véu islâmico, poder-se-á continuar uma mais longa conversa a propósito da reavaliação do peso da religião, organizada em instituições, na vida de indivíduos e sociedades. Foi, de resto e assinalando o facto de estarmos próximos do 5 de Outubro, ao que assistimos no caso dos alunos de Famalicão na implicância dos seus pais com as aulas de Cidadania.
Um assunto que sucede há séculos, de acordo com a organização Opus Dei, tão conservadora como os puritanos pioneiros que chegaram à América ou os reguladores das madraças islâmicas, ao dizer, na sua página web, que se observa “uma tendência nos poderes públicos, que se vem manifestando em muitos países, pelo menos desde o século XVIII, a assumir de modo cada vez mais exclusivo a função educativa, atingindo nalgumas ocasiões níveis de monopólio quase total da escola”.
Uma forma de estar nos dias de hoje tão estranha como ineficaz, na minha opinião, que não previne a infelicidade nem das almas, nem dos “rebanhos”, nem leva a que mais sigam os caminhos saudáveis do humanismo: os do respeito pelo livre arbítrio consciente, também e sobretudo, da presença de outros na nossa vida em sociedade.
É que fica claro que os véus não tapam o pecado de quem os usa, mas o de quem não tem sobre si o domínio de controlar uma bestialidade que pode reconhecer. E por isso evoca o nome forte de um Deus, ao abrigo da lei da hipocrisia que, por fraqueza, escreveu.