A Europa e o
rumo da sua União estão na ordem do dia, o que era até bem previsível depois
das eleições gregas. Não consigo ficar indiferente ao assunto. Nem ficar-me
mesmo só como espectadora. Interessa-me a Europa, aquela que decidiu unir-se,
como me interessa o bairro, a rua, o quarteirão onde vivo. Tudo porque não
consigo deixar de considerar este conjunto de países o meu habitat.
O habitat é o local que oferece as
condições climáticas, físicas e alimentares ideais para o desenvolvimento de
uma determinada espécie da Natureza, animal ou vegetal. E enquanto o habitat é essa localização adequada para
a vida, o modo como cada espécie vive, se desenvolve e se reproduz num
determinado espaço é chamado o “nicho ecológico”. Este nicho é uma parte do habitat e refere-se mais às
circunstâncias em que um ser vive, ou a sua a forma de vida, do que o princípio
do ideal que o habitat define.
Não que
tenha qualquer tipo de problema com outro qualquer lugar do mundo onde
seguramente encontraria, como já me aconteceu, lá está, o meu nicho. Mas porque
entendo que a Europa é uma escala suficientemente significativa para que a
diversidade, e toda a riqueza que dela advém, me permita sentir-me pertença de
um coletivo verdadeiramente variado. Nada contra, também, a vizinhança de ao pé
da porta, com quem as regras de civismo e civilidade permitem o são convívio.
Afinal, quando ficamos limitados ao nosso nicho por razões que não da nossa
vontade haverá lá melhor ambiente do que o da proximidade? Mas isso, de
preferência, quando já se pôde ver mais mundo… E é também por isso que todos os
programas de mobilidade que o facto de integrarmos a União Europeia
proporcionam são, em meu entender, uma enorme mais-valia na formação de um
indivíduo. Ou não tenha sido eu uma pioneira aluna Erasmus, há um quarto de
século atrás. Talvez até por isso a minha consciência europeísta seja tão forte
e as diferenças que uma identidade comum pode ter não seja, à partida, uma
expressão contraditória nos termos, antes um enorme fator de riqueza.
Não consigo
olhar para a Europa como o ATM, a caixa multibanco, dos governos e instituições
nacionais, onde se vai apenas levantar dinheiro ou gerir as nossas continhas. Sabendo
que esta é uma área muitíssimo importante para a vida contemporânea, sem
idealismos anacrónicos nem medos apocalípticos, ambos impeditivos do progresso,
o nosso e o dos outros, incomoda-me que a UE se tenha tornado, aos olhos de
muitos dos seus cidadãos, um sítio lá longe onde se passam umas coisas e que o
que é mesmo importante é que nos caia “algum” para gastarmos. Como se cada um
de nós não contribuísse também de facto para esse “pilim” que nos é depois
atribuído. Como se os dinheiros europeus não fossem públicos e, como tal, tão
de cada um de nós como qualquer bem comum que para dele usufruirmos teremos de
bem o tratar.
E é por isso que, do meu
nicho, me preocupa tanto o que vai acontecendo por esse habitat fora, onde extremismos a bombordo ou a estibordo são cegos
às circunstâncias. Felizmente, e com o que aparenta ser o rumo desta última
semana a nível político – embora com fortes razões financeiras e desiludindo
uns ou excitando outros - algum bom senso parece estar a ser tentado. É que na
bandeira da UE luzem, no simbólico número de 12, estrelas com o mesmo tamanho.
E o círculo é o símbolo da união que dá a imagem do lugar, habitat acolhedor, de quem dele faça parte na plenitude dos seus
direitos e deveres.