Todo o ambiente político que temos estado a viver nestas
últimas semanas - no resto do Mundo e no País e até na região - nos faz pensar,
de forma “redonda”, em que pensar de tudo isto. E de como será de agir daqui
para a frente na nossa vida quotidiana, pessoal e na comunidade, muitas vezes
até apenas exercendo o que continuamos a querer cumprir como dever cívico, e
participar na escolha dos que se predispõem a governar-nos em vários níveis. Não
me ocuparei, para já, a ensaiar pensar esses que são escolhidos pelos outros.
Seguramente não me faltarão oportunidades de tentar mapear e orientar-me no que
são as condicionantes e opções, que os governantes tomam, e se nos colocam para
avaliarmos e fazermos as nossas próprias opiniões e consequentes ações. E é que
para isso precisamos mesmo de reaprender a pensar os factos que temos à frente.
O ambiente político atual passa pelo terror, em que uma forma
de guerra nova nos transforma em potenciais e inesperadas vítimas fora de um
campo de batalha; e passa por reinterpretações de várias e inquestionáveis
lógicas dos atos eleitorais a que nos habituámos, enquanto Povo português, nos
últimos 40 anos; mas também passa por assistirmos a quase incompreensíveis
reviravoltas de discurso que me fazem pensar que o poder das palavras saiu do
domínio da comunicação tout-court e se
barricou no discurso onde todos os equívocos são aceitáveis, onde o da ficção
tem lugar central.
Tudo isto só pode, logo à partida, baralhar as pessoas. Essas
mesmo em nome de quem tudo o resto se diz fazer. Quando queremos responder às
perguntas mais simples, porque ingénuas, mas das mais difíceis porque sem
resposta direta, teremos sempre de fazer tão longos e demorados discursos, o
que é uma forma quase anacrónica de vivermos porque os tempos são de tweets, soundbites e buzzwords. Ou então fazemos poesia, como aquele pai que
ensina ao filho que nos protegemos dos “homens maus” (leia-se terroristas) com
flores e velas.
Já na reta final da sua vida, Vergílio Ferreira escreveu
nalguns dos seus pensamentos o que não poderemos considerar conselhos, pois a
ironia sarcástica com que pensou os tempos – os dele que já visionariamente
olhava bem por dentro e se prolongaram à flor da pele nos nossos – são mais
desabafos do que outra coisa. Um deles diz isto: Não penses
para amanhã na urgência de seres agora. Mesmo logo à tarde é muito tarde. Tudo
o que és em ti para seres, vê se o és neste instante. Porque antes e depois
tudo é morte e insensatez. Não esperes, sê agora. Lê os jornais. O futuro é o
embrulho que fizeres com eles ou o papel urgente da retrete quando não houver
outro. E este pessimismo é por instantes tão contagiante…
Resistamos, porém!