11.7.12

Cada um é como cada qual e cada qual é como é

E chegamos hoje ao fim desta minha segunda série de crónicas semanais que a Diana tão gentilmente me proporciona. De pausa para férias de verão, marcadas sobretudo pelo calendário académico, o tema que vos trago tem a ver com o sururu dos últimos dias sobre diplomas mas numa perspetiva mais lata que é o das formas de tratamento em sociedade entre nós criaturas humanas. E foi por isto que escolhi para esta crónica um provérbio humano dos mais redondos que há, porque dizendo tudo não diz nada, mas sobre o qual poderíamos ficar horas numa noite quente de verão a dar voltas ao mote… Diz então o provérbio que «cada um é como cada qual e cada qual é como é».

Voltemos às formas de tratamento e aos diplomas académicos, e ao que eu penso sobre o assunto e gostava de partilhar convosco, senhoras e senhores, estimadas e estimados ouvintes e eventuais leitores, que pela vossa paciência me merecem o maior dos respeitos, sabendo ainda para mais que se não fossem os senhores e as senhoras esta crónica não era crónica mas apenas uma série de sons e letras a pairar na nuvem das comunicações.

Comecemos pelos diplomas. Normalmente, e em primeiro lugar, obtém-se um diploma como sinal de conclusão de alguma coisa, às vezes com avaliação, outras só com participação, mas sempre depois de se ter aprendido alguma coisa. Depois usa-se o diploma para atestar que se tem esse conhecimento quando este conhecimento é chamado para ser posto ao serviço de determinadas competências, normalmente técnicas, no desempenho de uma profissão, onde para além da técnica, e é prática que tem vindo a desenvolver-se, muitas outras características muitas vezes também contam e são, mesmo, imprescindíveis: relacionamento interpessoal, capacidade de expressão e comunicação, cordialidade, pontualidade, empenho, etc., etc. Acontece, porém que num país em que a educação só chegou a todos vergonhosamente tarde, nos tornámos a todos, como povo, numa espécie de novos-ricos neste assunto. Porque a educação é, de facto, uma riqueza, não só individual mas também social. E assim como fica mal andar a esfregar a riqueza na cara uns dos outros, porque fica, o mesmo é válido para o título académico. O caso do ministro Relvas é também claramente um caso de título e de forma de tratamento, que não pode nem deve servir para desvalorizar o estudo e a formação das pessoas, como aliás fez o grupo de correligionários do ministro e ele próprio, em relação aos programas de novas oportunidades e outras validações de competências numa lógica de aprendizagem ao longo da vida. Relembro que os exames ad hoc, que são agora conhecidos por M23 também são e, desde há muito, uma oportunidade para prosseguir estudos.

Posto isto, tenho a acrescentar que é uma convicção minha e digo-o em qualquer lado que doutores há muitos (felizmente), senhores é que é mais difícil encontrar. E que se o título académico é como um sacramento para o resto da vida, a qualidade de senhor ou senhora é algo que se tem de provar constantemente, sem direito a equivalências, porque não as há. Certo é que, por uma questão de educação (não de instrução) e até provas em contrário, qualquer cidadão deverá à partida ter igualdade de oportunidade de receber tal tratamento.

Desejo um bom resto de verão a até setembro, se tudo correr bem.   

6.7.12

Pai com frio, filho com cobertor

Sempre fiz parte ativa das diferentes comunidades educativas por onde passaram os meus filhos, através das diferentes associações de pais e encarregados de educação, até quando na creche e jardim-de-infância tal associação não existia mas onde era hábito os pais fazerem parte de direções e restantes corpos sociais. E tenho ainda reunido, nos últimos quase três anos com vários representantes destas associações que mostram, em meu entender, um cada vez maior envolvimento dos pais na vida escolar dos seus filhos. Um evidente progresso de abertura da escola aos pais, e do inverso também.

Tenho tido, por isso, oportunidade de olhar de um outro ponto de vista para estas associações. É que tratando-se de membros de associações por períodos de tempo relativamente curtos, é natural que também queiram ver os problemas que encontram resolvidos o mais depressa possível, em tempo útil, para que os seus educandos sejam ainda beneficiados. É que, como diz o provérbio, «pai com frio, filho com cobertor». E é com imenso gosto que me tenho apercebido de que também muitas das posturas de exigência de direitos estão a ser substituídas por vontades expressas de participação, de ajuda, de forma absolutamente voluntária.

Este voluntariado na comunidade escolar cria uma coabitação a meu ver saudável, um verdadeiro convívio intergeracional e espelha uma consciência de parentalidade que passa para as mãos destas associações o papel de autênticas «escolas de pais» informais, espécie de nova oportunidade para partilhar competências que sendo obviamente individuais serão sempre validadas por práticas comuns e de sucesso provável. É que as crianças, pelo menos até aquela idade da adolescência em que ao “adolescerem” os jovens já se acham mais adultos do que crianças, gostam de ver os pais envolvidos na sua vida escolar, sem ser apenas para ouvir queixas de maus comportamentos ou outras más notícias.

E mais acrescento que mesmo a criação de órgãos como o é o conselho geral, instituído no 17º governo constitucional, pela então ministra Maria de Lurdes Rodrigues, onde os pais estão representados, não desalentaram a sua organização em associações de pais e encarregados de educação. A participação cívica também passa, e muito, por aqui ainda que limitada aos que preenchem a condição de encarregados de educação. E porque ali estão, nas associações, confrontando os tais interesses individuais uns dos outros, confrontando-se com o interesse de um coletivo e com os interesses das escolas e dos professores, aprende-se que muitas vezes não sendo viável o desejado, será exequível pelo menos o possível. E isso é ver o mundo numa perspetiva mais ampla, menos a partir do seu umbigo, antes encarando-o dignamente à altura dos olhos.