22.8.13

Crónica-parágrafo estio 2013

Anda muita gente zangada. E não acho nada que seja trigo-limpo-farinha-amparo dizer-se que «casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão». Há muita gente zangada com razão, e muitas das vezes essa razão resulta de outros terem as suas razões para se zangarem também e, fazendo uso de diversos instrumentos, nem sempre elencados e certificados como legais nas regras ou códigos, mais ou menos transparentes ou pasquins, dispararem todos a torto e a direito, aparentemente sem avaliar estragos ou danos colaterais. Há sobretudo muita gente zangada porque não tem, e nem imagina, respostas para os problemas, ou até só às dúvidas. E a imaginação, infelizmente, não chega para nos aliviar do que não se resolve. E a luta, infelizmente, é sempre a reação mais básica, mesmo quando é feita em nome da paz. Há sempre mortos e feridos, nem sempre são os adversários. E nem sempre a Justiça, ainda que cega, pode aliviar a consciência de o alvo ter sido merecedor. Aliás, parece às vezes (demasiadas) que a justiça larga a balança e a espada e afasta a venda de um dos olhos… Será falta de coração? Será a massa-cinzenta que começa a falhar? Será a coragem que a faz hesitar na prossecução do seu caminho? A Justiça, mesmo aquela de bolso que usamos nos nossos pequenos julgamentos do dia-a-dia, às vezes parece deixar de ser a senhora que conhecemos. Meia-espantalho, meia-homem de lata, meia leão-medroso. Há que pôr-lhe uma estrada de tijolos amarelos pela frente e fazê-la avançar. E todos teríamos, então, de nos chamar Dorothy…

13.8.13

Crónica-parágrafo estio 2013

Trabalhar durante todo o verão não é comum, pelo menos para os funcionários públicos como eu. Não tem sido má experiência. Ver-se chegar uns e saírem outros, muitos “tisnadinhos pelo astro rei” como é próprio da época, ficando uns a assegurar algum trabalho de outros. Sendo só o presidente Manuel Melgão e eu à frente da Câmara Municipal, tendo a estrutura dos serviços sofrido recentes alterações, não nos parecia normal tirarmos férias e não o fizemos. O ritmo é outro, a bem dizer. Mas presidente ou vereadora sempre que sai à rua no seu concelho está forçosamente ao serviço, digo eu. Mesmo quando se encontram velhos amigos e se dão dois dedos de conversa há sempre uma ou outra questão de que se fala. É natural e ainda bem que acontece. É bom explicar as coisas sem ruídos pelo meio… E, depois, a vida flui sem férias. Partem uns definitivamente cedo de mais. Ficam outros, à mercê da evolução da ciência, a viver até ao fim de uma vida que já não reconhecem. Ainda me prometeram uma chuva de estrelas (e não foram políticos!), mas apenas usei o tempo da promessa para olhar aqueles pontinhos de luz, quase fixos, e pensar na imensidão do mundo e na pequenez do Homem, na riqueza da vida e de como tantas vezes a desperdiçamos.    

6.8.13

Crónicas-parágrafo do estio 2013

Votar em alguém, e os partidos são feitos de pessoas, é comprometer
essa pessoa ou pessoas em quem se vota. Poderá sempre exigir-se mais a
quem teve a sua confiança, também através do voto, do que ficar a
reclamar com quem não se quis ter nada a ver. E não se terá ainda mais
um direito, que é o de reclamar com um candidato eleito em quem não se
votou e de quem se espera que cumpra os deveres de uma oposição
consciente?