Chegamos ao
fim de mais uma temporada de crónicas. Foram 39, desta vez com direito a
algumas pausas decorrentes do calendário festivo. Não tem sido um ano fácil em
termos pessoais e, quando assim acontece, parece ainda mais negro o lado das
notícias que nos chegam do resto do Mundo.
Enquanto
escrevo esta crónica já foram resgatados alguns dos meninos tailandeses
encurralados numa gruta, depois de perpetuarem a tradição local de um ritual de
iniciação que os transformaria em heróis de brincar. Acabando vítimas, e
sobrevivendo-lhe, têm o resto do que lhes espera na vida para transformarem o
sofrimento em resiliência. É este o único lado menos negativo de todas as
histórias que achamos, e ainda bem, que têm sempre um final feliz quando a vida
vence a morte.
As férias são
os momentos em que nós os adultos regressamos, de certa forma, ao simulacro
mais próximo da infância. O lazer, e saber como usá-lo, faz-nos reviver a época
das responsabilidades relativas que parecem apenas submeter-se às regras do
correr dos dias. E se as expectativas forem só essas – e não o percorrer milhas
e marcar “vistos” em lugares a que temos de ir porque toda a gente vai – essa
simulação quase se torna realidade. E é também nessa reposição de expectativas
que parece sobrar-nos o tempo. Outra ilusão, claro.
Esta história
real dos rapazes tailandeses, como dos pequenos migrantes resgatados com vida
ou dos mexicanos reunidos com as suas respectivas famílias, vão parecendo até
histórias cor-de-rosa de um mundo negro. Ilusões que nos permitem acreditar que
a resiliência, também ela com graus, latitudes e longitudes díspares, se
constrói a partir do grão de areia numa engrenagem que, com esforços vários –
individuais, partilhados e colectivos – poderão dar origem a pérolas. E essas
poderão salvar-nos o resto dos dias, nem sempre bons, nem sempre os melhores,
mas certamente revestidos de um brilho diferente.
À escala, as
férias podem parecer a altura certa para acalmar ânimos que sabemos que vão
regressar em força, diminuir tensões que sabemos não terem acabado, suspender
certas durezas que sabemos que não se liquidificaram. São uma espécie de
tréguas de uma luta relativa a que podemos chamar viver, se tivermos sorte, ou
sobreviver se esta for escasseando. É aproveitar, caros ouvintes e leitores, é
aproveitar.
Boas férias,
ou pausa ou regresso ao tempo que parece ser só nosso.