Queria hoje falar-vos da mina da Boa
Fé. O assunto anda quente aqui do lado leste da fronteira com o vizinho
concelho, a quem a prospeção e exploração de um ouro de que há muito se fala, e
a concretizar-se, também afetará. Desse concelho vizinho veio o presidente que
do lado de lá terá proposto a votação favorável do interesse municipal dessa
exploração. Digo “terá” porque, de facto, nunca vi nem li tal parecer, já que o
filtro para a opacidade do que se passa nas reuniões públicas do concelho de Montemor-o-Novo
é bem eficaz na impossibilidade, ou pelo menos enorme dificuldade, para o
público em geral de consultar as atas deste órgão democraticamente eleito. E
por estes dias previsivelmente se fará, neste concelho de Évora onde foi eleita
a equipa que o “ex.” de lá e atual de cá dirige com maioria absoluta, uma
proposta com o mesmo assunto que, à data em que componho esta crónica, ainda desconhecemos.
E vou usar o estrangeirismo spoiler
para tratar o assunto. A palavra spoiler tem origem no verbo to spoil, que significa “estragar” em
inglês. E não, não vou discorrer sobre os estragos que uma mega intervenção daquele
calibre, a realizar-se, vai causar. Isso já muitos têm feito, bem feito, apesar
de não pertencerem, ao que conste, àquela espécie de partido registado como “os
Verdes” que se junta ao Partido Comunista, sabe-se lá porquê (eu até tenho uma
ideia sobre isto, mas agora não tenho tempo para a expor, talvez noutro dia),
para formar a coligação em que a maioria dos eborenses que votaram nas últimas
autárquicas se reveem.
O spoiler de que vos falo é aquele
que revela a outros informações sobre
o conteúdo de algum livro ou filme, antes que esses o tenham visto ou lido e
ainda o queiram fazer. O spoiler é
uma espécie de desmancha-prazeres,
o indivíduo ou fonte de informação que conta o final da história e estraga a
surpresa aos outros. Alguns artigos e programas de divulgação ou informação até
destacam um "spoiler alert", uma espécie
de aviso usado quando algum conteúdo sobre um filme, série ou livro
pode revelar elementos importantes sobre o seu enredo.
Ora, os mais atentos saberão bem que
este filme da exploração de ouro tem episódios e desenlaces muito conhecidos,
nenhum deles capaz de reviravoltas felizes e surpreendentes como tentam, os
seus realizadores, ao dourar-lhe o final: centenas de empregos por cinco anos e
uma estupenda paisagem reordenada por cima das crateras deixadas, de fazer
inveja a qualquer lugar natural classificado pela Unesco. Acreditem que neste
caso não é preciso ver para crer, basta procurar q.b. os spoilers e vão ver que
lhes agradecem todos os pormenores revelados, concordando que “se tire a Boa-fé
deste filme”.
O que também me quer parecer, pelo
que tenho ouvido dos debates promovidos desde 2013, é que os únicos ainda
realmente interessados no projeto são a empresa exploradora canadiana e talvez
alguns satélites seus que permanecem na sombra, como pareceu ser o Álvaro, o
ex-ministro que mandou avançar as primeiras prospeções com despacho de quem
quer, pode, manda, e “mais nada!”. Ou seja, não vi ainda ninguém, de Évora ou
Montemor, manifestar-se em nenhuma posição pública a favor da mina de ouro. O
que também me deixa ainda mais curiosa com o novo parecer municipal, desta
feita do lado leste da Boa-fé. Ora aqui está um filme sem spoilers… Aguardemos
com atenção.
Até para a semana.