E vamos chegando ao final deste ano de 2015, em que a
novidade parece ter sido a palavra que descreve a vida política, a portuguesa e
não só já que tivemos as reviravoltas na Grécia e as surpresas na Espanha, e
assistimos a lampejos de situações que muitos diziam possível, mas quase só no
campo dos desejos que imaginamos, incrédulos.
Estranhámos que vencesse eleições um governo austero e armado
em justiceiro cego, que não é o mesmo que ser da família da Justiça que venda –
ou devia vendar - os olhos para agir, desconfiando que afinal quem tanto
reclamava não se deu ao trabalho de sair de casa para contribuir para alguma
mudança. Estranhámos que aqueles que acabaram, nesta legislatura, a representar
no Parlamento os outros que saíram de casa e votaram, se combinassem para mudar
o rumo político. Tanta novidade que estranhámos promete-nos, em termos
políticos, um pouco mais de expectativas para 2016. E depois, também houve quem
quisesse ver, ou fazer ver, novidades em coisas que já se faziam há bem mais de
um par de anos, mas isso tem só que ver com assuntos da “nossa rua”, locais
quero dizer, e a que darão importância os mais atentos e com melhor visão para
estas minudências.
Ao terminarmos este ano em que, na minha maneira de gostar de
ver Portugal a construir-se, se lançaram os dados para uma ponderação e
moderação de um sistema de governação que amadurece, não posso deixar de
alimentar uma esperança que sentia ansiosamente pronta a manifestar-se, mas
ainda sem oportunidade. Muito do que temos em nós de otimismo, tantas vezes
reprimimos – quase supersticiosamente – com medo que a realidade o roube. E é
por isso que alguns tomam cautelas, mesmo quando por princípio sentem confiança
no cenário montado mas aguardam com expectativa o desempenho dos atores.
«Crer para ver» escreveu o Vergílio Ferreira, e são estes os
verbos que traduzem o meu presente e que projetam no futuro próximo (próximo
porque a idade e a condição humana não permitem grandes voos) o meu e o de
muitos otimistas.
Um bom 2016 a todas e a todos.