Évora voltou a ser falada na Comunicação Social pelas piores
razões. A Cidade património da humanidade, o território livre de armas
nucleares, a candidata a Capital Europeia da Cultura, a Cidade Educadora, na
semana de reabertura das escolas às crianças em Portugal fechou tacticamente
três escolas. Isto porque a Câmara Municipal permitiu que os seus trabalhadores
com funções de auxiliares de educação não fossem para todas as escolas onde
deveriam estar, sabendo nós todos que se o óptimo é inimigo do bom, o zero é o
pior mesmo perante o insuficiente. E se durante as férias escolares, estes
funcionários da Câmara provavelmente também servem para trabalhar noutros
equipamentos e eventos municipais, em caso de crise o contrário também seria
uma possibilidade.
Aquilo que sucedeu na primeira abertura de ano lectivo da
responsabilidade da actual Vereadora do pelouro, face a uma situação que, não
sendo nova, está longe de ser a pior dos últimos nove anos, tempo de vida do
contrato de transferência de competências na área, exigia gestão. Como exigiu nos
anteriores dois mandatos, de cores partidárias diferentes, mas em que o esforço
de cooperação e diálogo, e que tempos foram de adversidades várias!, valeram
inícios e anos lectivos relativamente tranquilos. E o rácio era outro, mais
apertado, bem como maiores eram, quer o número de crianças nas escolas, quer,
por exemplo, o número de escolas básicas abertas em freguesias rurais (se não
me falham a memória e as fontes disponíveis ao público, em 2009 eram 10, em
2018 são 7). Afinal, nesta primeira prova de esforço, o que se viu por parte de
quem tem a responsabilidade municipal no assunto foi uma espécie de “assim não
vale, vamos desistir”.
Os que julgam que o que provocou o encerramento dessas
escolas foi uma inevitabilidade, desenganem-se. Até porque, como todos já
sabemos, para os Comunistas as inevitabilidades não existem e, como tal,
escusam de combater com essa arma que repudiam os que se vêem, perante uma
inevitabilidade, na necessidade de reorganização e adaptação de forma a
prejudicar o menos possível a maior parte dos cidadãos. Este arranque de ano
lectivo foi toda uma jogada de um plano maior que é a não aceitação liminar, e
por isso sem negociações, da descentralização. Esta é uma importante fase da
Democracia portuguesa – e se ela o é para os que defendem o poder Local! – que está
em discussão de forma a vigorar a partir de 2021, ano em que serão as próximas
eleições autárquicas.
E foi uma jogada que mexeu no que talvez seja, a par da saúde
que todos temos e desejamos ter para sobreviver, o que mais influência tem no
desenvolvimento de um País, uma região, um concelho: a educação. Tratou-se de
um boicote para exigir um bónus acima da lei que tantas outras autarquias, até
com iguais dificuldades, cumprem, pondo o seu empenho no bom funcionamento das suas
escolas naquilo que delas isso dependa. O boicote é um tipo de actuação com uma
história que data do século XIX, quando um gestor de terras que não eram suas
resolve comportar-se como um tirano com os que ali trabalhavam, em nome de uma
boa gestão dessas propriedades, e estes se recusam a servi-lo, votando-o ao
ostracismo e, claro, fazendo com que a situação dessas terras ficasse ainda
pior. Esta forma de luta foi depois usada para causas onde o interesse
colectivo se punha em primeiro plano, não sem óbvias privações para quem
boicota, e servindo actualmente sobretudo para combater monopólios, ou seja
interesses financeiros lesivos do bem-estar social. O boicote é uma forma
extrema de luta que, banalizada e pondo em causa instituições geridas por
dinheiros públicos, se torna perigosa para uma sociedade democrática. Para além
de, por isso mesmo, ser consequentemente uma atitude deseducativa que promove o
descompromisso, interrompe a procura de alternativas equilibradas e desmotiva
aqueles que mais do que investirem no capital de queixa se poderiam dedicar a
procurar soluções para o que motiva a queixa. E tudo isto se passou numa Cidade
que se quer continuar a dizer Educadora. Não espero nada de bom de exemplos de
desgovernos de proximidade como estes, já que é pelo exemplo daqueles com quem se
convive que melhor se educa.