Se o
estrangeirismo de hoje, pole position,
vem do mundo do automobilismo, o assunto da crónica são as eleições na Grécia e
a vitória expressiva do Syriza. A pole
position é o primeiro lugar na chamada grelha de partida de uma corrida de carros,
o lugar destinado ao piloto mais veloz e alcançado, normalmente, em treinos
classificatórios.
No que me
parece que se tornará uma curiosa, ou talvez não, repetição da história e
espécie de fado da civilização, a Grécia reinaugurou a democracia. Não andou
para trás, fez antes uma espécie de upgrade,
para usar outro estrangeirismo, dessa democracia, primeiros passos gregos que
deram no que permite irmos atualmente a eleições escolher quem nos governa,
para o bem e para o mal, mas com a possibilidade de, ciclicamente e quando
necessário, mudar-se em paz e com regras.
Não que
todos tenhamos que ter um Syriza e que passará a haver em cada país desta
Europa a que pertencemos, um partido saído da extrema-esquerda a amaciar-se e a
deixar de bradar do lado de lá, na oposição, e passe para o centro das decisões
a tomar, com o bom senso civilizacional, sem retrocessos. Estou quase
absolutamente convencida – há sempre espaço para as surpresas, bem entendido –
que se engrossarão as hostes do lado mais à esquerda do que é a imensa massa de
moderados que alternam nos governos europeus. E o que irá precisamente acabar
são algumas tendências no que aos mais à direita neoliberal diz respeito, e que
se juntarão a outros extremismos que também poderão começar a ganhar a sua
força. Afinal, o que ouvimos ao Syriza e terá contribuído para que tenha ganho
as eleições agora, já ouvimos num documento assinado por muitos que militam e
simpatizam com um Partido do chamado “arco da governação”: renegociação da
dívida e recusa da austeridade pela austeridade, ou seja como fim em si mesma.
Inquestionável
é que a Grécia está agora na pole
position para que mude de facto alguma coisa na Europa, o que já começou a
acontecer através do BCE. Uma pole
position muito bem conseguida pelo Syriza não só pelo lado do sempre
popular discurso da contestação, e ainda mais em períodos de crise manifesta,
já que latente é ela sempre nestas almas meridionais banhadas pela nostalgia do
Mediterrâneo. Foi conseguido também pelas provas dadas enquanto governo local e
regional. Na Ática (e noutras regiões das Ilhas Jónicas), o governo Syriza tem
sido o laboratório da experiência. E parece ter tido o êxito suficiente (multiplicou
por seis o orçamento social apesar do contexto não ser nada amigável, por exemplo)
para que a escolha fosse agora para o governo nacional.
Tudo isto requer atenção,
porque há mudança nos ares do velho continente e a confiança de nós europeus
terá de ser reconquistada. Atenção por parte dos Partidos, que são quem propõe
os governantes para irem a votos, mas também por parte dos cidadãos eleitores
que têm no voto a sua mais legítima e eficaz arma para que os governantes se
comportem. Tudo isto com tempo ainda para cuidarmos do nosso próprio
comportamento cívico – quantas vezes, até só por inércia, não pactuamos com
situações que não beneficiam em nada o bem comum? Tudo com tempo também, aqui
por Portugal (e por que não se gostam e ainda lhes chegam os euros) para uma
excursão familiar com a petizada àquilo da Violetta? Tudo uma questão de
escolha possível, quando as circunstâncias são oportunas. De qualquer modo,
como dizia o slogan do movimento Que se Lixe a Troika retirado do discurso do
ator desempregado André Albuquerque de 2013: «Portugal não é a Grécia!».