Claro que o título que dei a esta crónica é uma brincadeira,
mas, como toda a brincadeira, parte da simulação de assunto sério. Neste caso,
o de Marega, criou-se uma confluência de assuntos sérios, sobre os quais muito
mais já havia a fazer. É que o mundo do futebol não serve de referência para o
mundo da Política séria, porque predispõe para certos comportamentos
apaixonados que, muitas vezes até, toldam a visão sobre o próprio desporto como
um todo. Além de que, quase sempre, o motivo para os jogadores e treinadores
pertencerem a uma equipa é profissional, contratual entre partes, e não para
beneficiar a modalidade. Quando muito, os valores de base do desporto em geral,
e geralmente desvirtuados, podem ser relembrados e usados como ferramenta de
sensibilização para comportamentos exemplares. O desespero de Marega parece ter
feito mais do que muitas campanhas sobre os comportamentos inapropriados dos
adeptos. Ficava mais contente ainda se o Marega, para além do combate ao
racismo e à xenofobia, defendesse, também exemplarmente, o fim de
comportamentos sexistas e homofóbicos.
Além disto, fico quase aliviada pelas questões do racismo em
Portugal terem deixado de ser monopólio da deputada não-inscrita da Assembleia
da República. E parece-me bem que uma data de gente tenha passado a ter provas
de que eram tidos como aceitáveis comportamentos racistas a reboque do calor da
emoção no futebol, mas que ultrapassam o uso de linguagem de fino recorte
vicentino e são, na verdade, também inadmissíveis ofensas, em público e com
testemunhas.
O outro motivo do meu “Viva” em forma de “Vote” foi o faux-pas
no tweet - depois cobardemente retirado, como é próprio dos populistas -
do deputado “Chaga! Besta!”, ou lá que interjeição é que o define. Julgando que
os anti-dragões se punham ao lado dos racistas assanhados pela bola, resolveu
chamar hipócritas aos que apoiaram Marega. Mediu mal os Portugueses que ouvem
quem tem responsabilidades e cuja opinião influencia.
Posto isto, uma andorinha não faz a Primavera e o caso Marega
deveria ser só a primeira de mais iniciativas que figuras públicas e populares
podem fazer para contradizer, sem nada a perderem individualmente, figuras que,
para ganhos pessoais, assumem discursos populistas para se tornarem populares. É
que se os vermes começaram a sentir o lodo ao seu dispor para aparecerem a
chafurdar, todos os outros, sem se agacharem ao nível do verme na esperança de
um lugar de topo nesse lodo, podem começar a caçá-los. E usá-los como isco para
outros iguais a eles. Com astúcia e, sobretudo, com muita elevação. Não será
fácil, mas o ambiente melhorará, conclusão a que a História e a Memória nos
ajudarão também a chegar.