O yo-yo tem uma origem um pouco nebulosa,
de tão antiga que é. Talvez na China, talvez na pré-História, dizem. Mas quem
acabou por registar-lhe a patente e batizá-lo na versão que conhecemos hoje,
foi um filipino que emigrou nos anos 20 para os Estados Unidos e lá abriu uma
fábrica deles, tendo chamado a atenção de um tal Donald Duncan que lhe comprou
a fábrica e o promoveu.
É um
brinquedo que se vale de algumas leis da física para funcionar: quando é
lançado para baixo, a força da gravidade puxa-o nessa direção, mas como está
preso a um fio enrolado no seu eixo, e não se pode livrar dele, desce a girar
enquanto se desenrola o fio. Nesse movimento, o yo-yo vai ganhando aceleração aos poucos até que o fio acabe, e
então a energia potencial acumulada durante a descida faz com que o brinquedo
continue a girar, bastando um toque do jogador para que o yo-yo inicie o movimento de subida e volte à mão, recebendo logo um
novo impulso para baixo e assim por diante, até que dure a habilidade e
paciência de quem o manipula.
É um objeto
cuja atividade se pode tornar muito sugestiva para a composição e os exercícios
de estilo, nomeadamente para a metáfora. Parece que durante uma conversa o ser
humano usa em média quatro metáforas por minuto, já que muitas vezes as pessoas
não querem ou não conseguem expressar o que realmente sentem e então falam por
metáforas, onde o que se quer dizer fica subentendido. Claro que também há
outras figuras interessantes para se pôr o que não se quer dizer na boca de
outros, inventando-se heterónimos ou pseudónimos ou até personagens que, ao
longo das narrativazinhas, vão fazendo o papel ora do pudor e do bom-senso, ora
do boato e do queixume. É técnica de ficção antiga e poesia, pois, ou então de
quem põe e dispõe a máscara conforme o baile e nos dias em que mais lhe convém.
Mas adiante, sigamos às claras e de caras, para o yo-yo e para como ele pode ajudar a metaforizar.
Cada um terá
no seu dicionário de todos os dias, e de acordo com a sua própria realidade,
uma aplicação do yo-yo mais jeitosa
ao discurso. Lembro a das dietas yo-yo,
também conhecidas por dietas sanfona, em que assim como se perde peso, assim
logo se recupera, mas sobre isto não me dá jeito nenhum pensar muito agora.
Fico mais fascinada com as imagens da manipulação, da liberdade condicionada ao
fim do barbante, da energia acumulada e inquieta, pronta a saltar ao mínimo
toque, ou a de cada descida que o yo-yo
faz como se fosse uma libertação mas afinal, ah! que lá tem de subir outra vez!
Não há guita, como já não havia na vez anterior, e tanta energia a subir para
ir mais longe ainda que seja para baixo, com a força toda, e nada! Voltar para
trás, que aqui é estranhamente para cima e o que tudo isso significa, e andar
assim, acima e abaixo a distrair quem vê a “ceninha” a descer e a subir, com
mais ou menos rodriguinhos de técnica, floreados de nós, laços e percursos em
pontes e baloiços da guita que, afinal, é a mesma e não dá para a rodinha
despegar e sair em liberdade por esse mundo fora.
E há a
metáfora da paciência. Como o pescador agarrado à linha com anzol na ponta, o
jogador ali está, deitando abaixo e recolhendo, sem peixe na rede, com safra mais-que-ruim.
Enerva, pois enerva, aos menos habituados a ter estes destinos na mão, que este
é jogo para quem tem a resistência, que rima com paciência que é o que tem de
ter o jogador do yo-yo. E outros. É
que quando se joga ao yo-yo tem de se
ter tranquilidade. Tem-se, por assim dizer, a faca e o queijo todo na mão. É
fazer o que se tem a fazer e não se deixar acometer pela impaciência que parece
até desistência. Traduzindo esta metáfora para o mundo da política, seja ela
local ou nacional, é quando alguns se esquecem que tendo o poder na mão, não
precisam de andar a fazer oposição à oposição.
Sem
stresses, com calma, yo-yo abaixo, yo-yo acima, e que os toques sejam para
fazer reagir o yo-yo no fim da linha
e não ter de voltar a enrolar o fio à mão, sem leis de física que ajudem a
continuar. E fico-me por aqui que já devo ter ultrapassado a média de metáforas
por minuto.