9.12.14

Comics e western spaghetti, por favor

O que nas últimas semanas tem passado na TV com Évora como cenário me parece tão triste de ridículo que, melhor do que chorar – era o que mais faltava! – me deixa um desejo de que tudo isto não passe de um episódio de má ficção. Uma reedição de refugo à imagem de um mau western spaghetti ou umas quantas “tiras” de uma qualquer história aos quadradinhos que, ao jeito dos brilhantes e atualíssimos portugueses Dog Mendonça e Pizzaboy, misturam a atualidade política com uma história de cenas do outro mundo, num efeito muito cómico. E foi tudo isto a coincidir com o último fim-de-semana, o da primeira convenção de comics por cá, a ComicCon Portugal, que me trouxe até à crónica de hoje.
Comics é uma expressão que designa as bandas desenhadas produzidas nos Estados Unidos. Convencionou-se chamar comics porque as primeiras manifestações do formato eram histórias cómicas, precisamente. Em Portugal, primeiro conheceram-se por histórias aos quadradinhos e, posteriormente, como banda desenhada ou simplesmente BD, uma tradução literal do francês. Já os western spaghetti são os filmes sobre o velho Oeste fora-da-lei, de baixo orçamento, realizados não na América, que retratam, mas na Europa. É a cultura popular de massas cujos apreciadores e consumidores proliferam sobretudo nos meios urbanos.
Bom, mas posta esta informação sumária, o que me interessava mesmo era, por instantes, fugir deste ambiente que nos entra dos noticiários pela casa adentro e passar para um mundo onde, aí sim, tudo bate certo. Onde a propósito do universo dos super-heróis que muitos visitámos um dia, alguns primeiro através da BD, outros pela sua evolução na cultura pop, transformado em jogos, séries de TV, filmes e até indumentárias saídas de um guarda-roupa muito próprio e reconhecido por peritos desse universo. É que nesse mundo joga-se, enquanto ele dura e de acordo com o convencionado, uma espécie de concretização de um sonho de infância: «I just want to be a superhero!». Um mundo possível, ordenado, coerente. Ao contrário do que se passa por aqui em Évora, e que passa nos ecrãs, em frente a câmaras, profissionais, amadoras, improvisadas, pespegadas elas, por sua vez, em frente a um estabelecimento prisional. 
Por mais que tente perceber o clima montado, quando me cruzo com estas cenas, só me apetece mesmo repetir, como uma ladainha, um excerto de um diálogo entre Tuco, o vilão, e Blondie, o bom, personagens de um famoso western spaghetti de Sergio Leone, O Bom, o Mau e o Vilão. Tuco tenta ler um bilhete com a dificuldade de um analfabeto «Até breve, id… id… id…» e Blondie, tirando-lho das mãos, termina, «”Idiotas”. Toma, é para ti.»

De facto, ninguém com dois dedos de testa merece ser o destinatário deste show. Dêem-me comics e coboiadas a sério, por favor!