O que nas últimas semanas tem passado na TV com Évora como
cenário me parece tão triste de ridículo que, melhor do que chorar – era o que
mais faltava! – me deixa um desejo de que tudo isto não passe de um episódio de
má ficção. Uma reedição de refugo à imagem de um mau western spaghetti ou umas quantas “tiras” de uma qualquer história
aos quadradinhos que, ao jeito dos brilhantes e atualíssimos portugueses Dog Mendonça e Pizzaboy, misturam a
atualidade política com uma história de cenas do outro mundo, num efeito muito
cómico. E foi tudo isto a coincidir com o último fim-de-semana, o da primeira
convenção de comics por cá, a
ComicCon Portugal, que me trouxe até à crónica de hoje.
Comics é uma expressão que designa as
bandas desenhadas produzidas nos Estados Unidos. Convencionou-se chamar comics porque as primeiras manifestações
do formato eram histórias cómicas, precisamente. Em Portugal, primeiro
conheceram-se por histórias aos quadradinhos e, posteriormente, como banda
desenhada ou simplesmente BD, uma tradução literal do francês. Já os western spaghetti são os filmes sobre o
velho Oeste fora-da-lei, de baixo orçamento, realizados não na América, que
retratam, mas na Europa. É a cultura popular de massas cujos apreciadores e
consumidores proliferam sobretudo nos meios urbanos.
Bom, mas posta esta informação sumária, o que me interessava
mesmo era, por instantes, fugir deste ambiente que nos entra dos noticiários pela
casa adentro e passar para um mundo onde, aí sim, tudo bate certo. Onde a
propósito do universo dos super-heróis que muitos visitámos um dia, alguns
primeiro através da BD, outros pela sua evolução na cultura pop, transformado
em jogos, séries de TV, filmes e até indumentárias saídas de um guarda-roupa
muito próprio e reconhecido por peritos desse universo. É que nesse mundo
joga-se, enquanto ele dura e de acordo com o convencionado, uma espécie de
concretização de um sonho de infância: «I
just want to be a superhero!». Um mundo possível, ordenado, coerente. Ao contrário do que se passa por aqui em Évora, e que passa
nos ecrãs, em frente a câmaras, profissionais, amadoras, improvisadas,
pespegadas elas, por sua vez, em frente a um estabelecimento prisional.
Por mais que tente perceber o clima montado, quando me cruzo com estas cenas, só me apetece mesmo repetir, como uma ladainha, um excerto de um diálogo entre Tuco, o vilão, e Blondie, o bom, personagens de um famoso western spaghetti de Sergio Leone, O Bom, o Mau e o Vilão. Tuco tenta ler um bilhete com a dificuldade de um analfabeto «Até breve, id… id… id…» e Blondie, tirando-lho das mãos, termina, «”Idiotas”. Toma, é para ti.»
Por mais que tente perceber o clima montado, quando me cruzo com estas cenas, só me apetece mesmo repetir, como uma ladainha, um excerto de um diálogo entre Tuco, o vilão, e Blondie, o bom, personagens de um famoso western spaghetti de Sergio Leone, O Bom, o Mau e o Vilão. Tuco tenta ler um bilhete com a dificuldade de um analfabeto «Até breve, id… id… id…» e Blondie, tirando-lho das mãos, termina, «”Idiotas”. Toma, é para ti.»
De facto, ninguém com dois dedos de testa merece ser o
destinatário deste show. Dêem-me comics
e coboiadas a sério, por favor!