Como esta é a crónica das “Boas Festas!” pareceu-me que não ia mal falar também da política que tem dedo directo nas questões da família. Pensemos, então, para falar a propósito das discussões na AR sobre a guarda dos filhos partilhada com residência alternada como primeira solução dos pais divorciados e do quase já chumbo a uma proposta que dizia querer tornar inequívoca a vitimização da criança que assiste a situações de violência doméstica. O ponto que realço é o facto das posições parlamentares no que respeita à família, essa velha e importantíssima instituição da sociedade, não quererem parecer ser uma questão ideológica. Mas são. Os mais conservadores tendem a evitar falar no assunto, como se falar fosse provocar ou incentivar e, como tal preferem mandar esconder o lixo debaixo do tapete e ir enfiar a cabeça na areia. Os progressistas radicais digladiam-se entre si para encontrar a purpurina que mais abrilhante, o que não deixo de encarar até nas linhas do meu próprio curso de vida, um falhanço. Mesmo que dessa queda, nos levantemos e continuemos, pés na terra e sonhos nos lugares onde estes vivem, a puxar-nos para a frente.
A
propósito do estatuto de vítima da criança que é espectadora inevitável do que
se passa na sua vida familiar, houve quem quisesse vir pôr-lhe uma marca na
testa, quando instituições públicas e particulares complementares se articulam
para resolver situações concretas. Lembro que a APAV, por exemplo, na sua
página web esclarece exactamente estas questões e podemos perceber que o
trabalho, discreto como deve ser, é feito. O pior mesmo é lutar contra
preconceitos que estigmatizam as vítimas. Pergunto-me o que de novo traria, às
práticas já decretadas, esta proposta em vias de chumbo para melhorar a vida destas
pequenas grandes vítimas?
Já
a situação do privilégio da guarda partilhada com residência alternada é, na
minha opinião progressista mas não radical, a consequência melhor numa situação
não ideal, mas à partida algum dia idealizada. Um divórcio é sempre uma
situação de falhanço de uma família que pensaria ficar unida durante o infinito
e mais além, e em que a partilha de tarefas e responsabilidades se desejou uma
realidade. Não sendo possível quando juntos, quando havia brilho e violinos,
pode até melhorar, quando do divórcio ou separação, na relação entre cada um
dos progenitores e a criança. A proposta não torna quem não é boa pessoa em
melhor pessoa, com tudo o que de impreciso, imprevidente e piroso qb a
expressão proferida em tom imperativo e irrefutável “boa pessoa” seja. Mas
evita que, quem seja Pai ou Mãe, e cumpra as responsabilidades a que essa
função ou papel que escolheu, não tenha exactamente os mesmos direitos. Para se
avaliar esse desempenho será necessário muito mais do que análises à ocitocina,
progesterona ou testosterona. Até me pergunto que detalhes sórdidos, e
desconhecidos porque não presenciados sequer pelos miúdos, terão os episódios contados
por Pai ou Mãe em litígio pela guarda dos filhos... Episódios certamente a
acrescentar aos da história que também desconhecem, porque pré-natal, e onde, à
partida, se contava (ou cantava) que “era amor para a vida toda”.
Um
divórcio ou uma separação que altera nas rotinas as relações que, no conjunto
mínimo de três pessoas - como no presépio (onde para alguns burro e vaca não
são só figurantes!) - não precisa de implicar sentimentos entre laços que,
naturalmente, são mesmo “para a vida”. Se, e só se, isso acontecer, o que será
evidente e perceptível até pelos círculos mais chegados, o presépio poderá
dispensar que os lugares previstos das suas figuras sejam mesmo eliminados e
não deixados para poderem ser ocupados à vez. E que essa vez não seja só pelas
festas. Votos de bom Natal, boas entradas e até para o ano!