2.1.18

Balanço e juízo

2017 foi um ano exemplar para Portugal. Exemplar no seu sentido literal de servir de exemplo, o que não é a plenitude do que é positivo, já que com o exemplo dos erros também aprendemos, ou devíamos aprender. 2018 arrisca-se ou a continuar, ou a revirar-se para que o que poderia ter servido de exemplo comece a ser esquecido. Vai depender de muitos e de todos nós, que é o que se espera de uma sociedade cuja Cidadania é construída na base da educação para a Democracia.

Foi um ano exemplar porque Portugal parece ter-se tornado “crescidinho” e esperarmos que seja a altura de se comportar à altura: o prestígio que angariou e foi reconhecido em diversos domínios menos habituais, a aproximação à centralidade dos países que contribuem activamente para o progresso da Humanidade e para a defesa da Democracia enquanto sistema político moderno e civilizado. Isto também deverá passar por uma nova postura mais crítica do Passado e alargada às novas gerações, começando e partindo das elites de quem se espera que estudem e elaborem os argumentos. Tendo já sido considerado como glorioso, da valorização à sobrevalorização de Portugal importa retirar-lhe também as lições de que nos foi dando exemplos. Sem esquecer a ousadia e a sinergia conseguida entre poderes vários e espírito científico aguçado, há que revisitar o seu pior lado como o do esclavagismo, da intolerância religiosa, da tendência para a atitude de saque ou extorsão que pode resultar, e demasiadas vezes resulta, da má gestão dos bens públicos quando estes abundam. 

Não é fácil, mas também não é impossível, manter um ecossistema saudável com cigarras e formigas. É preciso alguma serenidade, muito bom-senso e lidar com o sentimento de finitude e o sonho de imortalidade. São responsabilidades que podem falhar e ser assacadas quer a quem exige apenas para si direitos, em atitudes tantas vezes até mais perigosas por serem corporativas e não apenas individuais e desorganizadas, quer a quem pense beneficiar-se beneficiando. Um egoísmo mascarado de altruísmo, um simulacro de Política que é um exercício de “desenrascanço” institucionalizado. Em época de balanço, julgo que importa olhar o Passado e construir, no Presente, um Futuro que sabemos sempre muito condicionado por circunstâncias várias, até naturais, com que importará lidar com solidez e lucidez. É como tratar, com as nossas próprias mãos e no que depende de nós, as heranças e as tradições: sem condicionar nem comprometer o Futuro.


As figuras do ano portuguesas foram muitas e reconhecidas fora do território, mas o perigo dos endeusamentos, a justiça do reconhecimento, a lucidez contra o ridículo são factores complexos a ponderar em diferentes parcelas. Quanto ao grande Povo anónimo mas português, esse, nós, continuamos a oscilar entre a dedicação cega às causas que seleccionamos, discutivelmente, e a cegueira perante as populares e populistas manipulações de quem vive de influenciar esse grande Povo anónimo mas português. Seria o ideal mesmo que o que de bom se conquistou e se chamou colectivamente nosso durante 2017 fosse de facto um todo fruto da soma das partes. Ou pelo menos um exemplo a seguirmos. Está aí um 2018 inteirinho para o tentarmos. Que nos seja bom, para que o tornemos óptimo.