2017 foi um
ano exemplar para Portugal. Exemplar no seu sentido literal de servir de
exemplo, o que não é a plenitude do que é positivo, já que com o exemplo dos
erros também aprendemos, ou devíamos aprender. 2018 arrisca-se ou a continuar,
ou a revirar-se para que o que poderia ter servido de exemplo comece a ser
esquecido. Vai depender de muitos e de todos nós, que é o que se espera de uma
sociedade cuja Cidadania é construída na base da educação para a Democracia.
Foi um ano exemplar
porque Portugal parece ter-se tornado “crescidinho” e esperarmos que seja a
altura de se comportar à altura: o prestígio que angariou e foi reconhecido em
diversos domínios menos habituais, a aproximação à centralidade dos países que
contribuem activamente para o progresso da Humanidade e para a defesa da
Democracia enquanto sistema político moderno e civilizado. Isto também deverá
passar por uma nova postura mais crítica do Passado e alargada às novas
gerações, começando e partindo das elites de quem se espera que estudem e
elaborem os argumentos. Tendo já sido considerado como glorioso, da valorização
à sobrevalorização de Portugal importa retirar-lhe também as lições de que nos
foi dando exemplos. Sem esquecer a ousadia e a sinergia conseguida entre
poderes vários e espírito científico aguçado, há que revisitar o seu pior lado
como o do esclavagismo, da intolerância religiosa, da tendência para a atitude
de saque ou extorsão que pode resultar, e demasiadas vezes resulta, da má
gestão dos bens públicos quando estes abundam.
Não é fácil,
mas também não é impossível, manter um ecossistema saudável com cigarras e
formigas. É preciso alguma serenidade, muito bom-senso e lidar com o sentimento
de finitude e o sonho de imortalidade. São responsabilidades que podem falhar e
ser assacadas quer a quem exige apenas para si direitos, em atitudes tantas
vezes até mais perigosas por serem corporativas e não apenas individuais e
desorganizadas, quer a quem pense beneficiar-se beneficiando. Um egoísmo
mascarado de altruísmo, um simulacro de Política que é um exercício de
“desenrascanço” institucionalizado. Em época de balanço, julgo que importa
olhar o Passado e construir, no Presente, um Futuro que sabemos sempre muito
condicionado por circunstâncias várias, até naturais, com que importará lidar
com solidez e lucidez. É como tratar, com as nossas próprias mãos e no que
depende de nós, as heranças e as tradições: sem condicionar nem comprometer o
Futuro.
As figuras do
ano portuguesas foram muitas e reconhecidas fora do território, mas o perigo
dos endeusamentos, a justiça do reconhecimento, a lucidez contra o ridículo são
factores complexos a ponderar em diferentes parcelas. Quanto ao grande Povo
anónimo mas português, esse, nós, continuamos a oscilar entre a dedicação cega
às causas que seleccionamos, discutivelmente, e a cegueira perante as populares
e populistas manipulações de quem vive de influenciar esse grande Povo anónimo
mas português. Seria o ideal mesmo que o que de bom se conquistou e se chamou
colectivamente nosso durante 2017 fosse de facto um todo fruto da soma das
partes. Ou pelo menos um exemplo a seguirmos. Está aí um 2018 inteirinho para o
tentarmos. Que nos seja bom, para que o tornemos óptimo.