As mudanças
de ano são também muito dadas a exercícios vários sobre a memória, ou falta
dela, no que se convencionou ser um recomeço, e foi até aproveitado pelo Prof.
Marcelo no seu papel de Presidente da República para aplicar o termo
“reinvenção” o que, sem outra especificação que no discurso também é deixado em
aberto, não deixa de ser um eufemismo para dizer que se tem de apagar o que foi
feito para fazer outra coisa. Mas vamos mesmo é ao que se passou em Évora com a
aprovação do orçamento municipal para 2018. É que parece que aqui é que houve
mesmo um exercício do “reinventar”... mas da roda.
Tentou-se
fazer esquecer o que passou e deixou-se passar o orçamento porque este
contemplou algo que parece que só agora se criou e, segundo declarações
públicas, sob proposta dessa nova oposição, o que, de facto, já existia: falo
de um plano municipal para a igualdade, iniciado em 2011, e de um cartão social
do munícipe que existe há pelo menos 10 anos. Até me lembra a mediática
instalação da benévola organização Refood em Évora, a quem não vi indicações
para os técnicos municipais, os mesmos que montaram o programa Solidévora em
2012 (se “googlarem” esta palavra descobrirão do que falo), acompanharem e
ajudarem institucionalmente a organização, caso esta quisesse, pois como
sabemos nestas coisas todas as ajudas são sempre poucas. Mais bizarro ainda é
louvar, na oposição, quem governa por aceitar uma proposta intitulada
“via-verde para o centro histórico”, acompanhando uma atitude, também muito
típica da governação comunista, de política de fachadismo. Não tendo nada
contra a valorização do centro histórico, onde até moro, trabalho e voto,
parece-me altamente discriminatório que os munícipes da Vendinha ou da Azaruja,
por exemplo, não tenham direito a uma via-verde para tratar dos seus assuntos
com igual celeridade e eficácia. Tão estranho também é que a oposição eleita
pelo mesmo Partido de quem, quando esteve no governo local, criou e pôs a
funcionar, para além do tal cartão social do munícipe e do tal plano para a
igualdade, venha sugerir alterações à empresa municipal que começou a debelar
os gravíssimos problemas de habitação com que o concelho de Évora se debateu
até serem assumidos, em 2004. Não me admirava muito que um destes anos
assistíssemos ao louvar da “criação” de uma biblioteca itinerante (que nasceu
em 2012) ou ao aplauso de protocolos para uma novíssima rede de bibliotecas
escolares do concelho com o inovador nome de RBEV (Rede de Bibliotecas
Escolares de Évora nascida, criada e alimentada entre 2006 e 2012), por
exemplo.
Já sabemos que há uma piada internacional que caracteriza, sem caricaturar, um dos modus operandi da doutrina comunista: reescrever a História apagando quem não interessa da fotografia. Mas ver essa prática activada por quem, em princípio, deveria fazer oposição a comunistas é uma verdadeira reinvenção do que é fazer oposição. E parece-me que há aqui algo de uma prática política muito errada. E os Eborenses conhecem-na.