Hoje a
crónica é sobre assunto de bairro e
questões de dinheiro, aquelas matérias que têm sítio próprio para se resolver
sem ser preciso guinchar ao mundo, a não ser que seja uma espécie de acção de
campanha de angariação de adeptos, entre o alecrim e a manjerona, ou um assomo
de queixinhas, algo pueril.
Eis senão
quando Évora volta a ser falada nos jornais nacionais de grande tiragem.
Assunto? Capital Europeia da Cultura 2000 e tal em força? O capote alentejano
Património da Humanidade? O prémio da cidade portuguesa mais limpa? Nada disso.
De repente, na era de todos os dados informatizados, cruzados,
disponibilizados, escrutinados, o Sr. Presidente diz, em Janeiro de 2018, que
descobriu uma dívida inesperada, uma surpresa de cinco milhões de euros, mais
coisa menos coisa, bem escondida. Vai-se a ver e, desses cinco, 3,3 estão bem à
vista e serviram várias vezes, num eterno retorno, de arma de arremesso que bem
jeito deram a quem venceu as duas últimas eleições autárquicas e, já agora e a
sério, serviram para transformar o sistema de abastecimento de água ao
concelho, urgência que, em parte, justificou o negócio oneroso. Ficaram 1,7
milhões, esses que apanharam de surpresa o Sr. Presidente e restante Executivo,
muito embora se tenham mantido desde 2013, altura em que tomou posse pela
primeira vez, os técnicos responsáveis quer pelas finanças, quer pelos assuntos
jurídicos da instituição. Das duas, uma: ou se prepara uma varridela no quadro
de pessoal ou há um montante de alguns milhões de euros que seriam necessários
para calar a contestação dos Eborenses e não se quer usar. Mas já agora uma
explicação com dados históricos e não com um magicar de desculpas.
Esta dívida
tem a ver com habitação social e remonta ao ano de 2004, altura em que se
definiram lotes para construção no Bairro das Coronheiras. Aquilo andou
embrulhado, com a falência da empresa construtora. Quando nesse mesmo ano se
constituiu a empresa municipal de habitação e se consolidou o seu
funcionamento, parada a obra e mantida a dívida, esta passou naturalmente da
Câmara para a empresa. Diz que ninguém sabia e que nem quando retomada a obra,
concluídas e entregues as casas se soube. O que eu sempre soube é que quer o
IHRU, instituto nacional com estas competências, quer a empresa municipal
mantiveram até 2013 negociações, intermitentes mas concretas, pressionando da
parte do município a resolução que permitisse construir habitação social para
os munícipes eborenses. Acontece que só, e já, há um ano atrás, em Reunião
Pública de Câmara de dia 1 de Fevereiro de 2017, a propósito da conclusão e
atribuição de casas nesse bairro, o Sr. Presidente informou, e cito, com “
agrado o facto daquele problema, que se arrastava há alguns anos, estar resolvido
e que resultou do facto da Hagen ter falido razão pela qual durante anos
ficaram 60 fogos sem poderem ser utilizados. Foi finalmente resolvido um
diferendo que existia com a Câmara (...)”. A pergunta seria, então: qual é a
dúvida? E não qual é a dívida.
Quem quer fazer obra, investir, usar o dinheiro para
fins públicos e necessários não vem usá-lo numas coisas e dizer, depois, que
afinal já não tem. Eu não sei, ou posso
até só desconfiar, quem querem enganar com estas descobertas... Até parece o
“outro” a dizer que o Partido dele não é um clube de amigos, nem uma agremiação
de interesses individuais. Todos uns ingénuos, portanto, e que se apresentam
prontos para varrer os maus, que até usam a mesma farda mas com quem não querem
ser confundidos. Estejam atentos, se ainda tiverem paciência!