31.5.12

Não se pode julgar um livro pela capa

Como na semana passada me “estiquei” no tamanho da minha crónica, desta vez prometo ser breve e inseri-la no evento que conseguimos, CME e Livreiros, ainda este ano levar a cabo em Évora: a Feira do Livro.

Este certame tem em Portugal um público muito especial e muito, digamos assim, elitista. Porque de facto os consumidores de livros são uma minoria dos portugueses e, desta forma, organizar insistentemente feiras do livro é uma espécie de tentativa para que a aquisição e a leitura de livros passe a ser, pelo gosto e pelo hábito, uma atividade mais de todos. 

Ao contrário das duas grandes feiras do livro em Portugal – em Lisboa e no Porto – aqui em Évora, e provavelmente noutros concelhos do país, as feiras têm um orçamento exclusivamente municipal. Desde o aluguer da tendinha à programação da animação, desde que entrei para cá de vereadora em altura de penúria, temos “feito oitos com pernas de nove” para continuar a realizá-la.

Todos sabemos, ou pelo menos imaginamos, que o negócio de um qualquer livreiro seja muito mais feito pelo amor ao livro, à leitura e aos leitores do que propriamente para enriquecer. Daí que algumas das livrarias da cidade comercializem outro tipo de produtos que ajudem a equilibrar o pouco que “dá” esse amor ao livro de pura leitura por prazer. Também por isso, e ao contrário das outras feiras das capitais, os livreiros não pagam nada para que, durante aquele tempo que dura a feira, tenham a sua montra e o seu balcão na praça mais concorrida do Concelho. Não pagam nada que é como quem diz… têm um trabalho danado que, se calhar, lhes custa os olhos da cara, lhes tira horas de sono e como está na moda laranja, mas de casca pouco fina, dizer-se, lhes sai do lombo.

E é por isso que a única maneira de irmos levando estes esforços adiante tem sido fazê-lo em conjunto, o que em abono da verdade só descobri depois da primeira que organizei enquanto vereadora, dando ouvido a outra parte, se calhar a minoritária, que via numa outra localização da Feira do Livro uma mais-valia. Serão aqueles, os muito bons leitores e eventualmente tão bons compradores de livros que, se calhar nem precisam de Feiras para nada. Que eu sou uma leitora dessas, é verdade. Que alguns dos livreiros viam outros locais que não a Praça com bons olhos também é verdade. Que eu também gostava de deslocalizar a Feira e levar leitores e compradores de livros a outros largos ou ao jardim público também continua a ser verdade. Não digo que nunca que não apoiarei outro modelo, outra versão, mas terá sempre de ter uma muito maior participação e empenho dos envolvidos e interessados, sendo os munícipes uma grande parte interessada. E estando consciente que jamais agradarei a todos, é com todos que trabalharei para manter este evento de promoção do livro e da leitura e, já agora, do comércio do livro. O que o caro ouvinte pode fazer por isso? Ir à Feira, pegar nos livros, abri-los, ler excertos, contracapas e badanas, e falar com os livreiros sobre eles, porque como diz o provérbio «não se pode julgar um livro só pela capa».