5.6.12

Mais vale ir, do que mandar

Vai começar mais uma saison de patriotismo com duração limitada mas incerta. Refiro-me à febre do futebol que assalta todos os meios de comunicação, divulgação e publicidade quando a Seleção Portuguesa de Futebol faz as malas para jogar fora em campeonato maior. São momentos em que as massas, sobretudo as mais adeptas mas não só, esquecem os seus pequenos problemas enquanto dura a esperança de alcançarmos reconhecimento através de uma seleção de desportistas que se transforma na parte pelo todo que é Portugal. Mesmo não sendo adepto do desporto ou da euforia à volta dele, é incontornável que não nos identifiquem os outros, os estrangeiros, com esta febre futebolística.

Ora os criativos da publicidade sabem isso muito bem, e qualquer produto que se queira bem vendido sê-lo-á sempre melhor se se colar à ocasião. Foi precisamente ao ouvir o anúncio de uma marca de gasolina que utiliza até a máxima dos Três Mosqueteiros do Dumas, que até eram quatro, arriscando-se a confundir-se com outra marca desta feita de uma cadeia de hipermercados, mas isto era se o público conhecesse de ginjeira o Dumas e as suas personagens… Foi ao ouvir uma leitura em voz alta (atividade de que gosto imenso) de uma carta aos jogadores da Seleção Nacional de Futebol por um jovem adolescente que parei para pensar melhor nesta coisa de mandarmos os outros fazerem boa figura por nós.

É certo que, também tomada como muitos pelo desalento da derrota da nossa equipa, às vezes dou comigo a dizer-me que tão bons jogadores em equipas “privadas”, assim que são chamados a funcionários públicos da seleção nacional parecem tomados de uma falta de empenho inconcebível. Mas pronto, é um desabafo pontual, que rapidamente esqueço, porque sei que jogo é jogo, mesmo com muito empenho e trabalho. E também é por isso que aquele discurso de que está nos pés daqueles homens (ainda para mais só essa parte da humanidade…) o futuro da Nação me parece de uma injustiça enorme para a rapaziada.

O apelo do jovem para ficar no país a realizar o seu sonho, quando muitos dos 22 convocados a quem se dirige andarem a fazer pelas vidas deles lá fora; a ideia de que é derrotando outros que vamos ser um exemplo, o que me parece tão mais próximo de um espírito guerreiro do que de um espírito construtivo e empreendedor, em que o facto de jogarem bem e lá estarem entre os primeiros é já façanha a destacar; e, acima de tudo, pôr no futebol a saída de uma crise que é muito mais de “outros futebóis” parece-me, para além de muito populista, injusto para os jogadores e treinador. Até parece que foram eleitos e estão sujeitos a algum escrutínio constante por parte de quem os elegeu… Aquilo é só futebol e desporto! Se ganharmos será muito bom, mas saber perder também se aprende na escola, nos clubes, nas associações. Palavras de incentivo sim, tanta responsabilização parece-me que é querer passar a bola e já não ter nada a ver com ela…

Se assim fosse, como o textinho, semelhante a carta ao Pai Natal, faz acreditar, a Grécia, equipa vencedora do 2004 ou a Espanha, campeã em 2008, não teriam sido as salvadoras proféticas daqueles países que estão como estão? Crise é política, campeonato é futebol. Por muito que todos nos devamos sentir, porque estamos mesmo quando dela nos demitimos, incluídos na política, no Europeu de Futebol somos meros espetadores de uma equipa de futebol.

De qualquer modo, só posso desejar que a equipa nacional jogue bem e que tenha, como em qualquer jogo, boa sorte.