23.5.12

A açorda faz a velha nova e a nova gorda

Hoje vou responder a um texto de outro cronista que esta nossa Rádio Diana tem a gentileza de colocar no ar, dando-nos a cada um de nós um tempo de antena com que semanalmente entramos pelas vidas dos ouvintes que fizerem a também vossa gentileza de nos escutar.
Bem sei que o colega é um cronista 3 ou 4G, isto é, de uma geração de comunicadores que consegue fazer pela sua vida de cronista e requentar a sua crónica em mais do que um suporte de comunicação social e eu me fico, por opção entenda-se, o que não é uma queixa, pela Diana e pelos meus meios de comunicação pessoal e não social, como os muito meus blogue e perfil de Facebook. O que também não é de admirar porque o colega cronista é representante de um Partido político que é especialista e fértil a colar cartazes em várias paredes. Pois onde eu vi este comício, perdão este texto, foi até em jornal semanal da terra de distribuição gratuita, ainda que estranhamente em formato muito mais de notícia do que de crónica, mas isto também é opção legítima do jornal, opção que estou obvia e sinceramente longe de criticar. Aliás, para os mais atentos às notícias, aqueles que fazem clipping e não jogging como ouvi dizer com piada a um deputado do tal partido que gosta de colar cartazes, mesmo não fazendo clipping regularmente, é mais do que evidente como o executivo municipal de Évora está longe de ter lugar cativo em qualquer imprensa escrita da região; infelizmente até com prejuízo da informação e comunicação ao público, que poderia disfrutar do excelente trabalho feito pela autarquia, pelos seus técnicos e funcionários empenhados, em detrimento da crítica negativa que, essa sim, é veloz como o vento. Mas isto deve ter a ver com uma certa propensão do Partido pelo qual me candidatei em não tomar de assalto órgãos de comunicação social. É que no poder ou na oposição nunca vi Partido tão alvo de tanta notícia facciosa (às vezes nem é preciso a notícia, bastam os títulos) como o Partido Socialista. Mas isto a mim até me descansaria enquanto cidadã sem militância, porque seria sinal que, não sendo os socialistas enquanto pessoas nem melhores nem piores do que os comuns mortais, têm pelo menos a decência de não ter por hábito comprar imprensa. Mas adiante.

A crónica tinha a ver com açordas. Como eu nunca gostei daquele número de palhaços em que voam tartes de uns contra outros, acho que nesta “troca de açordas” me vou mesmo ficar pelo número de hoje. Claro que eu percebo que estando eu no Poder e o cronista na Oposição, eu seja um alvo fácil – grande e larga que sou, para usar com o adjetivo” larga” um eufemismo que é liberdade poética, ou melhor prosaica! É que o que faço no Poder terá repercussões diretas, mais cedo ou mais tarde, na vida das populações, e muito do que faço às vezes é acrescido do difícil caminho que é feito pelo constante trabalho de Oposição que encontro em muitos lugares de remuneração pública e não em quem assume o cargo de opositor político legitimado. Não contesto em nada o trabalho dos eleitos pela Oposição, entenda-se, só lamento muitas vezes a efabulação de propostas ou o populismo de soluções que, também mais cedo ou mais tarde, se repercutiriam, caso implementadas, na vida das populações, se é que muitas delas não reverteriam apenas para uma “clique” de adeptos, dando eu desde já o benefício da dúvida.

Mas voltemos à açorda e à crónica que contesta o facto de ter eu dado a volta a meio mundo para falar dela, o que levantou no cronista oportunidade de fazer brincadeira jocosa e irónica quanto ao que eu disse lá na Coreia do Sul e que ele não ouviu.

É que, a convite da organização do Congresso da Associação Internacional das Cidades Educadoras, lá viajei quase 24 horas para lá e outras tantas para cá, única despesa paga pela Câmara Municipal já que estadia e inscrição foram oferta, por ser vereadora, levando a representantes de várias cidades do mundo inteiro o Projeto Educativo do Património de Évora. Há dois anos atrás, o congresso equivalente, realizou-se na América do Sul e o tema tinha a ver com Desporto. Tendo eu acabado de chegar ao executivo municipal, não tendo os técnicos mostrado particular interesse em propor uma comunicação e não havendo promoções, isenções nem outras simplificações orçamentais, foi opção a Câmara de Évora não ir. Este ano foi diferente, já que até ganhámos o lugar por eleição, neste mandato, na Comissão de Coordenação da Rede Portuguesa das Cidades Educadoras. E sim, é grande o empenho do executivo em fazer acontecer um conceito que herdámos, só mesmo enquanto conceito.

A açorda foi metáfora não de sustento mas de sobrevivência, que é o que Portugal e os Portugueses têm estado a tentar fazer ultimamente, e que os alentejanos já conhecem desde tempos imemoriais. A açorda, na sua base, não distingue classes sociais, e tanto vai à mesa do pobre que lança mão ao que a terra lhe dá para comer, como à do rico que a enfeita de cores e sabores e se delicia, porque a açorda é mesmo deliciosa. Essa criatividade alentejana que está na alma boa daqueles com quem convivo há mais de 22 anos e que importa que ninguém desconheça e que os meus filhos, alentejanos, aprendam.

O tema do Congresso, como bem leu o cronista, falava de educação criativa sim, e foi também de forma programática ao encontro dos Objetivos da Década da ONU no que respeita à Educação para o Desenvolvimento Sustentável. A açorda foi o tema que Évora levou para falar de um todo – o seu Projeto Educativo em construção – e de várias partes, que são algumas das iniciativas que se desenvolvem em torno do que a terra nos dá e os alentejanos, na sua tradição, conservam, acrescentam e transmitem. A açorda em forma de metáfora foi inclusivé dada a conhecer ao Conselho Municipal de Educação que sugeriu com graça que, não podendo nós irmos em comitiva como foram outros municípios, como por exemplo Almada, levasse os ingredientes para uma espécie de showcooking. E confesso que teria sido um acepipe para os congressistas ocidentais, ou pelo menos os portugueses, que durante os quatro dias de congresso se contorceram com os sabores coreanos, prevendo que na extensão de curtas férias que alguns aproveitaram para fazer já que tinham ido até tão longe, não se livrassem de a alternativa às refeições ser num Mac Donald’s. Eu cá, como só fiquei nos dias em que o governo coreano me deu abrigo, comi assim que cheguei um cozidinho que me soube melhor do que nunca.

Mas voltemos à açorda, que incomoda tanto quem reclama para a sua organização partidária, que esteve no poder 27 anos, a integração do Concelho na rede das Cidades Educadoras. Deste assunto até já vos falei aqui, há um ano atrás. Como diz o provérbio português, «a açorda faz a velha nova e a nova gorda». Eu, nova, só no cargo de vereadora, já a integração na Rede das Cidades Educadoras, como realça o cronista, é do século passado e, por isso, velha de 12 anos. Se o cronista julga que aderir a esta Rede é assumir que já se é uma Cidade Educadora é porque não lhe explicaram bem como ela funciona. Na Rede das Cidades Educadoras não basta querermos ser, temos que o trabalhar em áreas muito diversas para o sermos, além de que as Cidades se constroem enquanto Educadoras também naquilo que os eleitos pela maioria dos seus munícipes definem como estratégias. Em Évora, na Câmara Municipal, há no presente técnicos afetos ao cuidar desta atenção, um deles até usando horas do seu trabalho enquanto funcionário para a sua formação académica nesta mesma área.

Os frutos deste investimento não se colherão amanhã, mas julgo que insistindo, estrategicamente, em várias áreas de que não vos cansarei agora em elencar, a Cidade será educadora quando todos souberem que, para além dos que elegeram assim a desejarem, se for construindo com todos os cidadãos. E agradeço ao cronista ter dado a conhecer a mais alguns esse facto. Quanto à sugestão de fazer desdobráveis para as caixas do correio, isso de distribuir panfletos e colar cartazes é verdade que também pode ser educativo. Mas já agora, pode ir-se dizendo aos jovens munícipes de uma jota bem conhecida que papeleiras de rua e caixas de eletricidade pública já não são lugares de afixação de anúncios, pois a democracia permitiu-nos conquistar também esse espaço próprio. Bem como as paredes pinchadas que enfim… São velhas técnicas que não convém que engordem antes que, educadamente, se remoçem!