1.4.11

A Culpa

Procura-se a culpa quando há crime, acidente… ou crise. É por isso necessário prová-la quando se quer tentar repor a verdade ou, pelo menos, fazer-se justiça, já que a verdade não é tão absoluta como, se calhar, às vezes nos daria jeito. Ponderam-se, então, motivos, provas… ou causas, para que «a culpa não morra solteira» e se castigue o criminoso, se reparem os danos dos acidentados ou, pelo menos, se minimizem os efeitos.
Falemos então agora dos suspeitos do costume quando há crise como aquela que todos estamos a viver actualmente. Uma crise económica a que se seguiu uma crise política, para não aprofundar o assunto com argumentos do jogo do princípio dos princípios em que se fala do ovo e da galinha. O principal suspeito é o actual governo. Os suspeitos com álibis fornecidos pelo Tempo, que não perdoa mas faz esquecer, são os anteriores governos. Os inimputáveis são os cidadãos portugueses em geral, onde se metem no mesmo saco: os que votam e exercem um direito e um dever; os que não votam convictamente, pondo-se de fora, e que logicamente deviam calar-se para sempre; e os que se estão nas tintas porque “os políticos são todos iguais” e “o que eles querem é tachos”. E a oposição? Onde fica nesta barra de julgamento? Ficará como aquela que quer passar a ser o suspeito do costume e se perfila então como futuro governo? Ou uma espécie de profissionais do “eu processo-o!”, sempre prontos a procurar a casca de banana que faz escorregar o País para a seguir processar aqueles que mesmo não tendo atirado ao chão a tal casca de banana serão culpados porque não se apressaram a retirá-la?
Mas deixemos de lado as metáforas, porque quem eu acho mesmo que não merece ficar de fora deste julgamento que se faz ao actual governo, sob a forma de recusa de medidas de austeridade que todos sabemos serem inevitáveis, aqueles que com anos de experiência de serem contra-poder, sempre à espera do quanto pior melhor para poderem ter mais vozes a unirem-se à deles, agora que, mais do que nunca, na nossa democracia toda a gente diz tudo a todos sem medos nem pudores, deixaram de negociar o que já estava previsto na agenda do País: apertar medidas para salvar conquistas como o Serviço Nacional de Saúde ou a Escola Pública. Estas conquistas, que foram opções tomadas por uma esquerda democrática, foram postas em risco, um risco que quem negar apenas está a ser demagógico e a tentar hipnotizar cidadãos votantes. Estas medidas que precisam de acertos e reestruturações, mas que defendem os mais frágeis e pretendem tornar mais coesa a sociedade portuguesa, foram postas em perigo por uma esquerda que só se pode entender como fúngica (e não resisto em voltar às metáforas) uma esquerda que só sobrevive quando há descontentes, infelizes e miseráveis. E agora venham apontar o dedo a uma só pessoa… Desculpem-me lá a mim também por ter um dia acreditado nesta esquerda radical sobre a qual já não consigo ter sequer um olhar lírico. Estou a cumprir pena por isso! Até para a semana!
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