13.4.11

Presente! (crónica Rádio Diana 05.04.2011)

Confrontada que sou enquanto encarregada de educação mas também como funcionária pública, agora com funções de dirigente, com as regras de aplicação de justificações de faltas, licenças ou férias, que se marcam por esta altura, dei por mim a tropeçar num conceito que me era completamente novo: o do presentismo. Aliás, bem vistas as coisas, o nome veio definir numa só palavra as várias situações para as quais normalmente usava a expressão “mostrar serviço” por parte de alguém normalmente preguiçoso.
Mas esta expressão não era, de facto, o que se aplicava àquelas situações em que fui meditando depois de dar com o novo conceito, e que poderia justificar as mais diversas “chatices” que vão desde os serviços que se contratam, por exemplo, na construção civil e que, pelo tempo que se arrastam, nos transformam a casa na Igreja de Santa Engrácia, até aos relatos de aulas atribuladas que os adolescentes lá de casa fazem, passando mesmo pela menor eficácia de algum trabalho da administração pública que levanta sempre inúmeras reclamações por parte dos cidadãos.
Este presentismo, parece-me, dá trabalho, faz levantar cedo e cumprir horários o que, como tal, não se ajusta ao conceito de preguiça. Por outro lado, o resultado dessa atitude não resulta em trabalho nenhum, isto é, por muito eficientes que possam parecer essas pessoas, a produtividade é zero, ou próxima disso. A postura destes cidadãos pôs-me a pensar se era aquela a imagem que alguns adultos que me rodeavam na minha adolescência evocavam quando alguém emperrava em acções para as quais um raciocínio básico bastava pois tudo lhes era facilitado e, mesmo assim, as coisas não aconteciam. Dizia-se que o fulano “nem para estaca servia”. Tirada dura, mordaz, ofensiva! Mas o que é certo é que, ao tropeçar por estes dias no conceito de presentismo, por oposição ao de absentismo, tudo ficou mais claro.
Se o absentismo, ou seja a falta de comparência no posto de trabalho, é uma preocupação para os empregadores, parece que o presentismo, no sentido de presença com efeitos negativos, é muito mais dispendioso e preocupante. E diz quem sabe que este presentismo pode tomar várias formas, qual delas a mais nefasta para o empregador. Senão vejamos: há quem esteja presente, não seja produtivo e ainda gaste recursos como telefone ou ar condicionado; há quem esteja presente e em vez de trabalhar esteja sempre a desviar o trabalho dos outros com reclamações (pensei logo nos miúdos, nas aulas e nos vários motivos de distracção que a adolescência inventa!); e há também quem esteja presente mesmo doente, normalmente com doenças da época, contaminando os outros com medo de ao faltar perder o emprego. Num artigo online do castelhano El Mundo até se conclui que com a crise os trabalhadores tendem a fazer horas extraordinárias (não remuneradas claro!) para se mostrarem insubstituíveis, mas com produtividade idêntica ao de um horário normal.
Quando pensei que o empregador seria um privado deu-me alguma pena o azar de ter alguém ali especado sem fazer nada e ainda a segurar alguns arames farpados em que outros trabalhadores mais eficazes podem ir tropeçando, mas sendo o Estado o empregador, aquele para o qual somos todos contribuintes, o assunto pôs-me deveras preocupada. Eu indignada com o efeito das faltas, era agora alertada para o perigo de algumas presenças! Quase me atrevia a pensar que este tipo de presenças poderia ser, em casos extremos, toda uma agenda de intenções… Mas pronto, o que queria partilhar convosco foi o que encontrei sobre um assunto que, com a situação laboral dos tempos que correm, nos deve preocupar a todos. Já tendo nome o fenómeno, e antes que se propague, que tal uma campanha para o combater? Como? Valorizando o bom desempenho e penalizando o fraco, talvez. Como? Avaliando, parece-me.