24.10.23

Sem vagar para mudar

 Assisti à última Assembleia Municipal de Évora, que foi extraordinária, convocada para se discutir sobre uma alteração ao PDM. Muito brevemente, estas siglas referem-se a um plano estratégico que dita onde se pode ou não construir num concelho. Estava bom de ver, para quem está atenta, tratar-se de assunto que facilmente cairia no tema, tão discutido no momento que atravessamos, da habitação. Para não falar de como este instrumento técnico condiciona opções políticas, no sentido literal de projectar e ordenar a cidade. Só revela que quem chegou àquela sessão sem perceber que assim seria ou sofre de falsa ingenuidade, ou da arrogância do absolutismo sonhado (até moral) que, mesmo sem maioria absoluta, pauta a governação.

O que saiu das discussões que ali aconteceram foi muito claro: Évora só muda quando alguém lá de cima manda mudar, o que é uma chatice porque dá trabalho; e não há nenhuma ambição, nem visão de futuro, por parte destes que estão no poder em Évora.Talvez por isso não haja grande interesse em mexer muito no assunto da habitação quando a oposição nacional é poder local.

Confrontados com esta evidência do problema da habitação, foi com muita alegria de quem dá lições, e “enfiando-nos Lisboa pelos olhos dentro”, que a força política que apoia o governo local se entusiasmou. Fugindo com o dito à seringa, lá o chutou para cima, chegando ao argumento de que os problemas da habitação até já chegaram ao Québec. Curiosamente, ao chutar tão alto e tão longe deixa-me à espera de na outra Assembleia, a da República, ouvir da bancada desse mesmo Partido que não vale a pena aborrecerem mais o Governo português ou a Europa. Pois se até já chegou ao Québec…

O que, no final, foi simultaneamente espantoso e revelador, uma espécie de cereja cristalizada em cima de um bolo de arroz, foi ouvir alguém comunista assumir que, afinal, há inevitabilidades. Basta irem lá espreitar ao canal do YouTube da Assembleia Municipal de Évora para confirmarem. E deixem-me citar o Jerónimo de Sousa do princípio da Geringonça que, ao concluir a sua intervenção na AR sobre o programa político de governo, afirmava e cito: “Houve uma derrota que ainda aqui não foi falada, a da ideologia das inevitabilidades, que tudo justificava e tudo impunha.”

Nunca pensei…