3.10.23

A emergência climática e o chão comum

Não podemos apontar um dedo acusador que seja a nenhum jovem que se sinta envolvido e empenhado numa causa universal e de impacto público, como a que nos leva a acorrer à emergência climática. Mas devemos recusar qualquer acto de violência civil, ou seja, por e contra civis. Quem é pela paz e pelo civismo pode, e diria que deve, expressar e manifestar a sua discordância ou disseminar a sua causa, respeitando a integridade dos cidadãos e abstendo-se de incitar ao ódio.

Foi longo o caminho para aqui chegarmos, a este poder e dever, inclusivamente assinalando-se como marco histórico a publicação em 1948, está a fazer 75 anos portanto, da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Usando a expressão “chão comum” - que se entende como a necessidade de termos uma base de entendimento no território que partilhamos e que diz respeito a todos - os actos de reivindicação não o devem pôr em causa.

Não é, pois, de desvalorizar quando acontecem protestos que, mesmo em versão TikTok, assumem esses contornos de violência. Não os desvalorizar é criticá-los sem alaridos. Dar-lhes palco através dos meios que se encarregam de comunicar também essas reivindicações com as massas, cada vez mais diversas em várias vertentes, pouco mais se acrescenta de inteligível ao acto violento.

E depois temos os “Famous Six” de Leiria que foram ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos processar 32 países como criminosos por negligência e incumprimento de metas para reverter os desastres ambientais. E fizeram-no porque a lentidão nos processos de descarbonização dos governos desses países foram considerados, digamos assim, violência contra civis, ou seja, crime. Uma forma de luta que angariou apoios e seguiu a via correcta.

Não percamos de vista estes jovens, não os esqueçamos e dê-se-lhes todos os palcos que merecem. Estes são os jovens que nos ensinam com o seu protesto a respeitar e partilhar o nosso chão comum.