1.6.21

Eu sou dali desde pequenino

Cá vai a segunda crónica da série dedicada às eleições autárquicas, a série que intitulei há umas semanas atrás “1, 2, 3, elas aí vêm outra vez: da vida da Cidade em quatro tempos”, referência à tetra-ciclicidade que nos dá que pensar para depois decidir.

Não sou de Évora. O Vergilio Ferreira, o João Cutileiro, o Mário Barradas, o Túlio Espanca, entre outros cuja evocação do nome muita gente identifica com Évora, também não. Consciente da minha insignificância perante estes nomes, passo algum do meu tempo a trazer para Évora os elogios que lhe fazem “os estrangeiros”. A isto costuma-se dizer que “se veste a camisola”, acrescente-se que com todos os riscos que tal acarreta, quando se fazem as coisas com seriedade e a nossa cara é também a do que se representa.

Tal como a maior parte dos eleitores em Évora, até os cá nascidos, criados e “de pedra e cal”, não vejo nenhum problema com quem vem para Évora fazer por ela. Nem que seja só cá pagar os seus impostos, o que já não é pouco, e sempre ajuda. A quem queira fazer mais do que isso e, usando o poder que lhe é conferido e exerce, fazer de Évora um bom lugar para além de uma evocação do Passado ou uma boa mesa rodeada de uma bela paisagem, quem é de cá, em princípio, receberá bem, acolhendo e contribuindo para que as coisas lhe corram bem. Será talvez difícil, quando não se conhece um forasteiro, desligar o “desconfiómetro”, uma atitude ou treinada, ou quase congénita, e por isso atávica, pela experiência de gerações que viram gente de fora vir cá dar valor ao que de melhor há sem fazer pelo bem dos que já cá estavam e cá continuaram. Por isso, o melhor que tem a fazer quem vive preocupado com essa “invasão bárbara” é ver de onde vieram os que dizem vir por bem, e o que por lá fizeram.

Assim, se vierem para cá fazer nada, então o melhor é não virem. Ou, então, se vierem só para o que já estamos habituados a ver fazer há quase um quarto de século a certos ensaiadores de coros, engrossando as vozes que, os novos maestros, esperam que se transformem em ombros que os ergam em vitórias apoteóticas. É o que faz quem tem como agenda criar ambiente de contestação, inventar o caos e apregoá-lo, o que só mantém Évora sossegadita como uma curva no deserto ocupada por bonitos e ímpares monumentos e gente a trabalhar para poder sair e ir arejar até outra capital, se e quando a coisa se proporcionar.

Como tal, está aberta a época em que também se assiste, em Évora e provavelmente em muitas cidades, vilas e aldeias, a uma conversa de pessoas candidatas a lugares de poder cedidos pelas populações locais, sobre as relações umbilicais ao território. É melhor que não nos deixemos embalar por estas “cantigas de berço”. Parecem aquelas gracinhas futebolísticas de quem é adepto de um clube de topo e quando o adversário mais direto joga com um dos não tão grandes, diz que é destes desde pequenino. E isso, como sabemos, é só uma piada.