22.6.21

Que gira, a bola húngara

 Outra vez multidões em estádio. Outra vez o colorido dos trajes, bandeiras, enfeites e pinturas tribais, ordeiramente de acordo com a ocasião lúdica, mas com resquícios de batalhas. Outra vez gente em festa, até ao momento em que uns continuam em festa e outros adiam a esperança. A tal que é nestes casos que renasce, na época ou campeonato seguinte, porque a outra esperança está definitivamente sobrevalorizada de tão genérica que é para esta era de especialistas. Outra vez a ouvirmos o barulho da festa em vez do ruído dos homens em campo, muito homens, a suar, a gritar, a ordenar, com impropérios muito machos.


Pela mesma altura em que o jogo sublima a guerra, no mesmo lugar onde recomeça o negócio do ócio mais famoso do Mundo, o retrocesso humanitário aconteceu. A Hungria, tão ultra-conservadora quanto anti-cristã, transforma em lei o tabu que empurra qualquer referência ao tema LGBTQ+ para a clandestinidade. Confundir educação para a integração com pedofilia, que foi a guerra que as tropas de Viktor Orbán abriram e ganharam, é próprio de uma mente tortuosa colectiva e perigosa.

A Hungria tornou-se no tapete que esconde o lixo da desumanidade que é a homofobia, contrariando o rumo de um progresso a ser construído com a civilidade que se espera de um país da União Europeia. Está na altura de agir, denunciando: nós estamos a vê-los ser tortuosos e desumanos. Está na altura de o Cristiano Ronaldo não apenas comprar guerras financeiras com a Coca-Cola (são só trocos!) e apostar tudo no combate à desumanidade. Ainda não perdi a esperança de ver um arco-íris quando se festejarem golos marcados no tapete relvado da Hungria. E ver todxs xs eurodeputadxs empenhadxs nesta causa. Ou não estivéssemos nós num estádio chamado Europa, em que a bola que importa, e que devia girar, é a do Progresso, da Cidadania, do Humanismo.