Esta é a semana do dia do trabalhador, parece-me que o mais
internacional dos feriados. A propósito do dia da liberdade em Portugal os
discursos vieram enfeitados com palavra de poetas, para esta crónica de 1º de
maio, e respeitando a edição deste ano com citações, resolvi socorrer-me de um
poeta americano que viveu entre 1874 e 1963, chamado Robert Lee Frost. É que a
data tem mesmo a ver com esta época e com os Estados Unidos da América, já que surgiu
em 1886 quando trabalhadores americanos em Chicago fizeram uma paralisação no
primeiro dia de maio para reivindicar melhores condições de trabalho. O
movimento espalhou-se pelo mundo e, no ano seguinte, trabalhadores de países
europeus também decidiram parar por protesto. Em 1889, operários que estavam
reunidos em Paris, na chamada Segunda Internacional ou Internacional Socialista
ou ainda Internacional Operária, decidiram que a data se tornaria uma homenagem
aos trabalhadores que haviam feito greve três anos antes. Nesse dia, deixou de
haver greve, passou a haver feriado…
Dia do trabalhador, ou do trabalho, nascido da contestação, transforma-se,
em meu entender e numa época em que o desemprego atingiu em Portugal, mas não
só, níveis oficiais assustadores, um dia de reflexão sobre vontades. É que há
lamentos que ouvimos, de gente que na mesma medida do assunto que lamenta antes
fazia contestação e anunciava, mais ou menos explicitamente, resolução fácil;
há lamentos, dizia, que parecem muito mais cheios de vontade do que de
impotência…
Ora disse então o poeta Robert Frost o seguinte: «O mundo
está cheio de pessoas com vontade; algumas com vontade de trabalhar e as outras
com vontade de as deixar trabalhar.» Desconheço as circunstâncias desta máxima,
o que nos deixa ainda mais livres para a lermos à vontade, consoante
precisamente as vontades: a minha, que aqui vos deixo, a vossa se for
diferente, a nossa se concordarmos.
Talvez o dito se refira, de forma eufemística, a bons
trabalhadores e preguiçosos, mas, já agora, bons preguiçosos que deixam o
trabalho para quem tem vontade de o fazer. Nos dois casos poderíamos dizer que
ambos reconhecem o valor do resultado do trabalho que, quando aliado à vontade,
é sempre melhor do que feito sem ela. Grave seria, e é, se e quando as
“algumas” fazem ou fizeram um bom trabalho com vontade, as “outras” têm vontade
de não as deixar trabalhar, desfazendo, impedindo ou ignorando, o que vem dar
ao mesmo, o que de bom está a ser ou foi feito.
É quando vemos a falta de oportunidade para demonstrar a
vontade de trabalhar, como quando o trabalho escasseia para tantos, que
valorizamos o trabalho que com menos entusiasmo vamos tendo; mas é também
quando assistimos e uma raiva e indignação que vão crescendo nalguns contra
aqueles que transformam a possibilidade de terem e fazerem trabalho, num poder
de nada fazer ou até boicotar, que enfim já dá um bocado mais de trabalho e são
precisas algumas vontades concertadas. Já agora, dizer-vos que a palavra
boicote deriva do inglês boycott, do
nome do capitão irlandês Charles Boycott que, no século XIX, era administrador
de propriedades e costumava fazer exigências descabidas às pessoas com quem
negociava. Estas pessoas uniram-se com o propósito de não se relacionarem mais
com ele e a rejeição passou a ser identificada com o sentido de represália ou
mesmo de sabotagem.
Termino desejando-vos um bom dia do trabalho e do
trabalhador, que gozem se puderem o feriado, que é sinal que estão a trabalhar
ou dependem de estruturas onde se trabalha. E que o dia seguinte seja também
bom, não apenas porque é sexta-feira, mas porque é um dia de trabalho a seguir
ao feriado. Aos que “meteram” um dia e gozam ponte, aproveitem-na lembrando-se
que é um direito conquistado e merecido!