26.3.13

VER III

A visão que se aprende é talvez a mais importante de quem vive em sociedade. É a que nos forma e que nos molda, que nos faz lidar com as situações de forma a termos determinadas reações em detrimento de outras. Enfim, é a visão que nos educa, também e muito, pelo exemplo. Não nos formata, não senhor, já que isso seria pôr de lado a identidade própria, ou personalidade, de cada um de nós. Mas é a que nos sintoniza na nossa maneira de olhar e ver o mundo.

Quando Évora passou a ser uma maior (co)responsabilidade, também a perspetiva com que a olhei, alterou a maneira como a vi. Sem esquecer a visão mais parcial que trazia na bagagem, tinha de lhe acrescentar a perspetiva de que já vos falei e sem que, no entanto, perdesse também a tal visão lírica e apaixonada que nos dá o empenho que pomos nas coisas que fazemos.

No trabalho quotidiano que nunca é rotineiro, nem monótono, nem automático, nem indiferente, e que decorre agora com uma normalidade sempre inquieta e preocupada, alerta e determinante, muito devo a quem mais de perto me foi ensinando a ter uma visão do exercício de cargo com a responsabilidade não apenas de servir o bem público, como qualquer funcionário, administrador ou gestor público, mas de não perder a confiança de quem democraticamente, e muito bem, elege este e não outro executivo.

Cautelas com a avaliação de impactos de medidas num futuro em que eventualmente até já não estaremos por este mundo; cautelas com a abertura de precedentes que, por sua vez, abram caminho a injustiças, com a criação de falsas expetativas, mesmo quando do outro lado nos confrontam veementemente com a necessidade de um compromisso que não poderemos, convictamente, deixar de assumir como um desejo mas que sabemos que dificilmente disso passará; cautelas com as intenções de quem parece propor uma solução, com a qual podem, afinal, criar-se dois problemas.

Cautelas que, como os caldos de galinha, nunca fizeram mal a ninguém e que, se nalguns casos, também podem não alimentar ideias e fazer crescer mais depressa alguma coisa, devem ser a rede que ampara a iniciativa, a ação e a coragem para se mudar alguma coisa. E não a estrondosa, porque barulhenta, proposta de mudar tudo, para afinal ficar tudo na mesma. Que é o que faz quem em nome de uma virtual mudança, para melhor, claro, sempre para melhor, critica sem propor alternativa. E quando falamos de alternativa não falamos de outra opção noutras circunstâncias. Falamos daquelas mesmas circunstâncias. Ou estaríamos a falar, como a voz popular alentejana diz, em “sopas depois de almoço” ou, em prosápia de fait-divers futebolístico mais nacional, “prognósticos, no fim do jogo”.

Aprendi a olhar com quem tem mais experiência, com quem gere o bem público para o servir e não dele se servir. Com quem foi fazendo o seu lugar e nunca se colocou em bicos de pés porque o lugar os fez a eles. É com pessoas como estas que eu quero continuar a aprender a ver o mundo e desejar, porque o sinto como uma dívida para com o futuro, ensinar outros a vê-lo assim também.