13.11.12

INCLUIR parte 1

Esta crónica será, provavelmente, a primeira de mais algumas que andarão à volta do verbo “incluir”, a acontecer ao correr da pena e das circunstâncias que vão arrancando reflexões e motivando posições e pontos de vista.

Aconteceu-me esta quando assistia com os meus filhos a um concerto de música pop, conotado assim com gostos de grandes públicos, e a que algumas vezes tenho tido direito por negociações domésticas de cabimentação de mesadas e repartição de custos. Bons momentos também em família, para além de ser bom ver tanta gente junta, satisfeita, para variar do clima sombrio que vai pairando um pouco por toda a parte. Foi, aliás, este o motivo das minhas reflexões.

Para além da música que alegra corações, neste tipo de eventos mais populares assistimos sempre a um extravasar de sentimentos e emoções, momentos tantas vezes conotados com a alarvidade e a falta de cultura e qualidade, ou mesmo desconhecimento em relação à arte, neste caso a música, que ali se oferece como espetáculo. É verdade que, muitas vezes, o empolgamento do público chega a incomodar os que estão ali para assistir ao que se passa no palco, mas também é certo que os lugares não são marcados e faz parte do convencionado arriscarmo-nos a não ser a mesma coisa ouvirmos o disco tranquilamente em casa ou assistir ao espetáculo dos mesmos artistas ao vivo, tantas vezes com encenações adaptadas a essas ruidosas reações das grandes massas. Aliás, nos concertos de música erudita, em ambiente mais seleto e tranquilo, às vezes acontece as boas vizinhanças não serem fáceis, sendo a caricatura do desembrulhar do rebuçado um episódio bem possível. O que me parece certo é que tudo é feito para incluir o mais possível o espetador no espetáculo e quanto mais incluídos, e participativos portanto, mais sucesso este tem e mais satisfeitas de lá saem as pessoas.

Ora isto levou-me a tentar fazer algumas aproximações ao mundo da política, dos partidos, das organizações sindicais e da participação dos cidadãos, e de como tudo o que tem sido feito para que os cidadãos se sintam representados tem, de certa forma, tido alguma reação com mobilizações em que se faz crer que cada cidadão se representa a si próprio e não quer que ninguém nem nenhuma organização o represente. Como se ninguém se revisse em algo ou alguém que falasse por si.

Bem sei que isto é o assunto visto de forma mais grosseira, em poucas palavras, mas é o flash que posso dar, sem me focar, para já, em contornos mais precisos. E é, julgo eu, um bom ponto de partida para que se comecem a mudar atitudes quando falamos em nome de outros. Esta é uma terrível realidade, pois podemos imaginar o caos de ninguém tomar as rédeas de nada com receio, ou mesmo medo, de se ver imediatamente rejeitado por quem foi legitimamente indicado para o fazer. Bem sei, também, que há alguns que julgam que encher uma praça de touros e dizer que se votou por unanimidade uma qualquer moção, normalmente de protesto, cria esta ilusão de participação de cada um numa decisão concreta, mas parece-me um trabalho tão pouco sério, como tentar pôr o público dos tais concertos a saltar em frente a um mau concerto. Sim, porque se as reações podem parecer exageradas nestes concertos, certo é que já vi más atuações serem duramente julgadas por este público que aparenta ser algo alienado. Eles sabem ao que vão!

Para já fico-me com estas primeiras impressões.