20.11.12

ERRAR

Parece que foi descoberto um planeta novo num sistema próximo, a cerca de 100 anos-luz, do nosso sistema solar. Parece que anda por lá a vaguear, não se sabe há quanto tempo, sem uma estrela a acompanhá-lo. Parece que é costume os planetas terem pelo menos uma estrela que os acompanhe e a quem os astrónomos chamam hospedeira… E parece que, por isso, é um planeta errante.
Dizem-nos que os planetas errantes são objetos com massas típicas de planetas, que vagueiam pelo espaço sem ligação a nenhuma estrela. Já foram descobertos antes, mas sem o conhecimento das suas idades não foi possível saber se eram realmente planetas ou, imagine-se, anãs castanhas, isto é,  estrelas falhadas que não conseguem ter tamanho suficiente para dar início às reações termonucleares que fazem brilhar as estrelas bem sucedidas. Tudo isto é ciência, muito embora possa parecer poesia. Ou então é mesmo poesia, e a ciência não conhece outro código de linguagem para falar das coisas importantes da ciência. Sim, porque a poesia só é importante depois de todas as outras coisas. E os poetas sabem disso. Alguns importar-se-ão, outros não. Como acontece com todos os outros e outras “qualquer coisa”: poetas, cientistas, canalizadores, árbitros, nadadores, políticos, escriturários, seguranças, etc., etc…
Ensinaram-me, e eu ensino a quem devo, que todas, mas todas, as profissões são importantes. Com a incerteza na alma, e o receio de que no seu futuro os meus planetas muito meus saiam do meu sistema e vagueiam errantes por outro, sem estrelas, a errância deste planeta trouxe-me a imagem de uma geração que está a nascer de ativos que parecem ter o futuro traçado. É mais uma vez o número do desemprego jovem a crescer.
Quando eu, enquanto jovem, conseguia ter um emprego de férias que, muito para além da contrapartida financeira, me abria o caminho para o que seria isso de ganhar a vida, a geração a seguir parece condenada a errar por aí de oportunidade em oportunidade como se os lugares onde há trabalho fossem lojas com promoções. E quando isso acontece com os mais qualificados tudo parece mais aterrador, porque se alimenta a ideia de que afinal não adianta estudar.
Quando penso no planeta errante sem estrela hospedeira, ou será uma anã castanha porque não consegue crescer (?), não consigo deixar de ver uma imagem profética da geração dos agora jovens. Depois penso por momentos que se calhar os anos-luz serão ao contrário e, afinal, aquele planeta errante veio do passado e só agora o avistámos. E aí não posso deixar de me lembrar do Marco, a personagem de ficção que passou a desenhos animados saído do livro Coração de Edmondo de Amicis, e que viajou sozinho de Itália para a América do Sul para encontrar a sua “estrela” que tinha emigrado. Mas não deve ser. Anos-luz é coisa de futuro…
O planeta errante é, no meu dicionário de medos, o jovem que em silêncio, um ensurdecedor silêncio, não se junta a indignados, nem arremessa pedras às forças de segurança, que estão ali mesmo para zelar para que mesmo indignados se sintam seguros. Mas é também aquele que vai errando à procura daquela ocupação que não consegue sentir como profissão, mesmo que lhe tenham dito que é muito importante, porque não foi para ela que se preparou.
Se calhar aquilo que eu devia estar a ensinar aos meus planetas muito meus era como serem uns bons errantes, já que como qualquer mãe ou pai o que nós queremos mesmo é que “eles” sejam felizes… Vou procurar alguns conselhos, já que nada disto vem nos manuais…