13.11.12

ACREDITAR

Esta minha crónica vai hoje para a minha impressão do discurso de vitória de Barack Obama. Já quando o democrata Bill Clinton tomou posse pela primeira vez como Presidente dos Estados Unidos da América, o discurso foi de um brilhantismo digno de análise, então, com os meus alunos de introdução aos estudos literários.

Este de Obama foi menos poético, mas correspondeu a uma situação ou circunstância em que a América, face ao estranho comportamento desta nova União da velha Europa, dá uma lição de política e cidadania, através deste discurso. Proferido para uma plateia cheiinha de gente nova, o conteúdo assim enformado pelo estilo de Obama, leva-me pelo menos a acreditar que há um futuro para a democracia.

Para além da nota pessoal familiar, acrescentou o habitual sentido de humor dando o recado às filhas de que um só cão em casa chegava. E noto eu que, por sinal, esse é um cão português de raça autóctone algarvia. Mas o que mais realço neste discurso de 20 minutos foi a constante exemplificação de situações, chegando até ao detalhe de um caso particular, de gente que não tendo ainda visto concretizadas todas as primeiras promessas eleitorais de Obama continuar a acreditar que todos os passos do governante têm sido dados com o esforço de manter firmemente essa linha política, ainda que adaptadas a diferentes circunstâncias que fazem da política a arte do possível e não do ideal que não estará nunca à mão e ao gosto de todos.

Depois há no discurso uma união dos conceitos de política e cidadania, realçando o papel não apenas do político mas de cada cidadão, em diferentes áreas, poderes ou atividades que responsavelmente atuem e se comportem de forma a contribuir para o bem comum. Esta inclusão de todos e todas, esta convocatória feita aos cidadãos, estabelece um compromisso que vai para além do simples ato de eleição que, ainda assim, teve desta vez uma expressão muito significativa. Esta lição serve também para quem gosta muito de denegrir os políticos quando afinal, na sua atuação, os há de todas as espécies como qualquer cidadão na sua atuação e responsabilidade para com os outros e a sociedade.

Finalmente, o discurso criou um slogan que ecoará nas pessoas que precisam tanto de acreditar, sob pena de o descrédito cair sobre quem não sabe nem mesmo dar sinais credíveis de um futuro melhor. O seu «the best is yet to come», isto é «o melhor ainda está para chegar», é o sinal de uma esperança. Uma esperança sem promessas irrealistas mas com a confiança que é devolvida aos cidadãos que lhe depositaram confiantes, de novo, o poder nas mãos.