20.6.23

P(N)S

Começo por recordar, quem ouve ou lê as crónicas da DianaFm, que fomos para isto convidados por representarmos áreas abrangidas pelos Partidos ou Movimentos políticos em Évora. Também convém esclarecer que, havendo militantes e simpatizantes nestas agremiações, eu sou militantemente simpatizante do PS, identificando-me com os seus princípios fundadores e com a sua orientação na acção política quando eleitos seus têm responsabilidades governativas, mantendo-me atenta às suas tensões internas e até tendo tido a possibilidade de, por uma vez que espero não ter sido única, votar para aconselhar quem seria o secretário-geral do Partido.

Por razões várias, que não quero detalhar, é ao PS nacional que, para já, me interessa dar mais atenção. Ainda assim, consciente de que sendo mais expressivo o factor “pessoa” que governa, não é apenas no poder local que esse factor conta. E é por isso que hoje me apeteceu falar do Pedro Nuno Santos. E não, não me escondo debaixo daquela expressão, cheia de altiva humildade, que o faço “enquanto cidadã”. Essa é uma condição que, assim, se transforma num argumento desperdiçado de quem aparenta não apenas ter falta deles, argumentos, como parece também ter medo, quer de ter uma opinião, quer de poder vir a assumir erros de percepção e de experimentar a possibilidade de correcção de posição.

Entra pelos nossos canais audiovisuais dentro a vontade de Pedro Nuno Santos em suceder a António Costa. Se o desafio de gerir politicamente a Geringonça esteve (bem ou mal, não é este o assunto agora) à altura da sua vontade, a gestão de apenas uma tutela, mas com muitíssimas questões com precisão de croché, tricô ou renda de bilros, deve ter sido para ele um pesadelo. Percebemos agora que ter saído foi o melhor que lhe aconteceu. Sobretudo depois do “faux-pas” de, precipitadamente como é característica da sua geração, ter sido empreendedor, arrojado, mais voluntário do que voluntarioso (não fez birra, fez o que quem tinha de decidir mandou e decidiu, ou não…) no assunto da localização do novo aeroporto. Mas é este o tipo de decisão e de trabalho de estratégia para as políticas públicas que parece apaixonar, e para o qual agora já se percebeu estar talhado, Pedro Nuno. (Ainda terei tempo, e sobretudo tempo mais oportuno, para falar de quem, para mim é óbvio, seria um bom candidato apoiado pelo PS à futura Presidência da República, mas só a minha vontade de me livrar deste de agora é que me fez abrir estes parênteses-desabafo.)

E pela primeira vez desde há um par de anos encontro numa pessoa - que como qualquer pessoa é não só ele próprio como as suas circunstâncias - as razões para valorizar a sua ambição. Não basta ter vontade, não basta ter claque, não basta ter ambição, não basta ter muitos seguidores nas redes sociais. A experiência, a capacidade de auto-avaliação, a disponibilidade para criar um espaço próprio e nele entrelaçar vários rumos e assumir uma posição são factores que, a par das companhias que escolhe e que são o dado lançado que não sorteia sempre o seis, de facto importam. Vai ser preciso, havendo batalha interna, adversários à altura. E haverá, certamente, a avaliar pela última sessão da da Comissão da TAP. Nem que seja a um nível ainda mais interno e, como tal, mais distante da opinião pública a quem muitos, como está visto pelos inquiridores, andam a tentar esgotar a paciência.

Em suma, as intervenções do Pedro Nuno Santos na, ou a propósito da, Comissão de Inquérito à TAP revelaram-me um candidato a Primeiro-Ministro. E, na trama das inquirições, não posso deixar de o citar, pelo que tem sido óbvio nestas encenações que se chamam comissões e pouco parecem estar preocupadas com a TAP. Foi um comentário na mouche: “Eu não vou passar a mentir só porque a mentira parece mais verosímil do que a verdade.” Isto é de quem sabe o quanto governar pode ter de inacreditável. E tem.