9.5.23

Microfone vs Corneto: numa televisão perto de si

A tendência em transformar objectos de relevância em quinquilharia atraente faz parte das dinâmicas culturais, acontecendo de forma expressiva no mundo da Arte. Assistimos ao aparecimento de obras que vêm inovar e modificar o panorama encostado ao banal, que logo criam seguidores e influenciam criadores, acabando por dar espaço a sucedâneos piores, ansiosos por igual protagonismo, até ao momento em que lá vem outro abanão.

No caso Galamba, está bom de ver que o jovem adjunto Fred, elogiado por reconhecidas figuras do comentário, pois “levou as suas funções sempre a sério e é apaixonado por conseguir resultados”, cito Ana Drago, imbuiu-se do espírito dos super-heróis e, qual Robin no pesadelo de vir a ser esbofeteado pelo seu Batman, não menos jovem mas seu superior hierárquico, resolveu, finalmente, fazer dos seus já divulgados treinos em partir rapidamente para a “batatada”, um episódio extra que lhe garantisse o seu lugarzinho nos estúdios. Se o Bloco de Esquerda não o acolhe de novo no seu seio, até na Academia de super-heróis de onde saem alguns de muita e variada reputação para os seus quadros, creio que estaremos perante o nascimento de um novo vilão…

Mas mais do que esta empolgante novela jornalística spin-off, que é um fenómeno da ficção audiovisual popular a que estou atenta, do argumento central político que é a gestão da TAP, o que é relevante é, de novo, a contaminação da realidade que deveria estar longe do entretenimento, e perceber quem o faz ou propicia, seja por ignorância ou por oportunismo. Ambos motivos deploráveis e de perigoso efeito. E sobretudo quando só parece que estão a propor-nos que comamos gelados com a testa…

Também me incomoda a displicência que oiço a gente que se diz democrata e tem responsabilidades políticas a sugerir ou concordar com eleições antecipadas, alegando o acumular de intrigas, certamente criticáveis, mas que são só isso mesmo, se comparadas com o rumo da narrativa que é gerir um País. Como se ter ido a eleições, e ter obtido para um período de quatro anos indubitável validação democrática para governar, fosse um pormenor que, agora, dá jeito ignorar. Ao ouvir isto a estes democratas sinto-me insultada. E mais ainda quando, logo a seguir, me pedirem que vote neles. Mas resistirei, sempre!, e lá voltarei ao voto quando este me chamar.

Tenho pena que não seja para mudarmos já de Presidente da República. Não há aí nenhum herói que se lance numa novela a que sugiro desde já o título de “Impeachment”? Estou a ser irónica, claro: quiseram Marcelo, tomem lá Marcelo. Talvez ainda haja tempo para nos divertirmos mais com uma “trilogia do corneto” (é outra referência do cinema que o episódio Santini me recordou). Se bem que, se andarmos muito entretidos com fitas, pode sempre acontecer vir pior…