1.11.22

Universos de Conhecimento

A 1 de Novembro a Universidade de Évora celebra o seu dia e inaugura solenemente o novo ano lectivo. Se os aniversários são o que são, inevitabilidades, o desfasamento de calendários que vão para além do girar dos astros acaba por demonstrar que a defesa da perpetuação de tradições é assunto muito discutível. É que as aulas começaram em meados de Setembro, há até já avaliações a decorrer e, aparentemente, o início que valeria, se a tradição se cumprisse, seria o de 2 de Novembro.

Mas não percamos tempo com estas minudências, porque a Universidade é, por definição, o lugar da vanguarda, da inovação, e festa e trabalho já se aninharam e convivem bem, com sacrifícios dos festeiros, convém dizer, porque o ritmo do trabalho não condescende. Importante mesmo é que a nossa Universidade - mais nossa no concelho e na região, mas ainda nossa no país - seja mesmo lugar de criação de massa crítica. É que para sacos de vento ou caixas de ressonância já bastam os públicos que certas cliques, lobbies e grupos de comunicação empenham em alimentar, mesmo se cheios de académicos comentadores e opinadores (sim, eu sei que também sou académica, opino na comunicação social, mas também sei do que falo).

Com as suas fragilidades, que os múltiplos responsáveis, os que coexistem e não apenas os que se sucedem, têm obrigação de ir corrigindo, também será bom que estas não se perpetuem nos mesmos sectores ou serviços. Lá porque os estudantes vão passando, substituindo-se, custa ter de ouvir as mesmas queixas feitas por gerações diferentes. É que há famas com razão de ser que deixam estigmas muito duradouros, capazes de se tornarem tradição. E essas, com certeza, nada ganham em perpetuar-se, arriscando, quem ignora isto, a estar a olhar para o futuro com os olhos na nuca.

No universo que conheço, alguns ex-estudantes, vindos de, ou que seguiram para outras instituições, porque continuam a investir no conhecimento e reconhecem a mais valia de o fazer em várias “escolas” (aqui no sentido de desenvolverem princípios reconhecíveis que outros depois seguem), a proximidade professores-alunos no acompanhamento do percurso tem sido uma constante qualidade que põe a Universidade de Évora bem acima de certos “Olimpos”. E não ponho em causa as razões do mérito ao usar esta metáfora, apenas aponto a importância que, até nos universos do conhecimento, a diferença tem. Tal como é igualmente importante que essa tradição conquistada seja encarada como tão dinâmica quanto o cuidado que quem compõe as instituições põe em continuar a fazer delas lugares de vanguarda e inovação. Assim encarada até pelas comunidades - instituições, empresas, cidadãos - conterrâneas ou vizinhas. E esse é um trabalho difícil, constante e persistente que, como o chegar ao Olimpo, ou a ser Olimpo, devia ser ganho todos os dias.
Longa vida à Universidade de Évora.