16.11.21

Nem tcharam!, nem uau!

O que motivou a operação Miríade é razão de tristeza, sobretudo por contribuir para a descrença dos cidadãos em instituições cuja dignidade não merecia ser beliscada. Sabemos que em todas as instituições que se prezem, e porque são feitas por pessoas, há “maçãs podres” devidamente retiradas quando descobertas. Algumas são motivo de notícia num ou noutro jornal ou noticiário, e em vários lugares se contam histórias deste ou daquele apanhado, e a coisa fica assim, nas mãos da justiça, sem “tcharans”, nem “uaus”.

O que se passa no caso Miríade, a que se chegou com todas as cautelas de investigação que qualquer suspeita de crime exige para que o desfecho não termine em nada, sem constituição de arguidos, tem uma outra escala. A coisa, ao que parece, está a resolver-se de forma definitiva, com quem tem de ser resolvida. As Nações Unidas foram consideradas como parte a ser envolvida, o PM e o PR, não. As primeiras ter-se-ão envolvido na investigação, os outros não. Teria sido mais eficaz ou célere a investigação se tivessem estado? A resposta parece-me óbvia e a pergunta a única pergunta útil a ser feita por quem usa as sinapses para pensar a coisa pública.

Quem sabe o que está a fazer, sobretudo em assuntos tão delicados que envolvem crime, não tem de seguir outro tipo de agenda que não seja a da investigação criminal.
Mas a vontade de tcharam! a abrir primeiras páginas e telejornais, com os “cheerleaders”da oposição ao Governo a ligarem os megafones no botão do uau!, revela bem o quanto a fiscalização de poderes é assunto ainda pouco sério em Portugal. A estas tribos juntaram-se as habituais vozes que contestam, à boleia dos holofotes, e que até aproveitaram os que iam ao cheiro do podre para lançarem um livro sobre uma polémica reforma das Forças Armadas. Ficou tudo muito clarinho - era preciso fritar o Ministro em lume mais forte - só não percebe quem não quer. Felizmente também estes elementos oportunistas não são partes que representem dignamente o todo.

Sabemos também que há na Assembleia da República e na comunicação social quem, respectivamente, as use como palco e promova certos actores, para sobressaírem do seu normal desempenho de acompanhamento e escrutínio dos poderes instituídos. Mas travestidos de contra-poder, facilmente se distraem dessas importantes tarefas (olhem, como certos militares e não as Forças Armadas todas), saboreiam cada amendoim que lhes cai no colo e “pintam a macaca” à procura de casos e casinhos que lhes dão tanto jeito.

Eu sei que faz parte, que o “quanto pior melhor” é, não apenas uma táctica, como uma forma de sobrevivência (e falo de novo, respectivamente, de alguns que frequentam a AR e de uma certa comunicação social), mas que cansam e banalizam o que merece seriedade, em defesa da Democracia, lá isso cansam. E deixem ver quanto tempo dura o sururu (já quase não ouço nada!). Entretanto, julguem-se os suspeitos e condenem-se os culpados. Para que não se pense que, com tanto barulho, isto se transforme mesmo num regabofe.