20.4.21

A Liberdade de máscara

Pelo segundo ano consecutivo, o 25 de Abril não é festejado, por quem o festeja, da forma como gostaríamos que fosse: o Povo na rua, a Grândola cantada ao ar livre e juntinhos como num grupo de cantares alentejanos, o fogo de artifício nas praças. Quem nunca festejou, palpita-me que os primeiros no ano passado a criticarem as contidas comemorações da Assembleia da República e talvez os que se amontoaram no Natal, não sentem, nem sentirão, a falta deste ritual. Fazem mal.

A conquista da Liberdade só se pode ir completando em Democracia, o sistema que exige a cada pessoa, na medida das suas capacidades, o contributo para que a sociedade seja o menos desigual possível. Que não é o engodo do “tudo a toda gente”, mas a justeza nas oportunidades para além de privilégios. Como a Democracia, também a Liberdade deve vir com a Responsabilidade e a Solidariedade. E isso dá trabalho, exige cedências, pede tolerância. Cansa-se quem sente que o seu esforço não tem resultados: enquanto uns cedem, outros de pouco abdicam,e no colectivo, que é o que interessa a democratas, não se vêem efeitos dos que se esforçam.

Aos cansados da construção da Democracia acorrem populistas com discursos, que lançam como redes em que apanham também os que não estiveram (nem estão) nem aí para contribuir para o colectivo. De caminho arrebanham-se os que no espírito do “salve-se quem puder” acreditam que talvez se safem dessa chatice que é responsabilidade de viver democraticamente. É nesta massa de gente que populistas encontram as suas tropas, com nenhum objectivo de avançar nesse labor pela Democracia. E sob o discurso da liberdade que têm para se organizar e opinar, atropelam todas as barreiras que permitem precisamente que a sociedade viva em liberdade. Sim, porque há barreiras e limites para tudo, e quem disser o contrário já confundiu Liberdade com outra coisa qualquer.

Espero saúde, vontade e à-vontade para que em 2024, consiga descer mesmo a Avenida com nome de Liberdade, e comemorar os 50 anos da Revolução de Abril. Se tiver que ser ainda de máscara, em nome do bem colectivo, que assim seja.
25 de Abril sempre!