6.4.21

1, 2, 3, elas aí vêm outra vez: da vida da Cidade em quatro tempos (1)

 De quatro em quatro anos chovem as críticas a inaugurações e outras iniciativas que se colam à aproximação das eleições autárquicas. A mim parece-me normal. As iniciativas, claro, já que as críticas são crónicas e, por estas alturas, se não se fizessem as ditas inaugurações, elas aí estariam a apontar que “nem na campanha eleitoral tivemos uma estrada nova para a aldeia ou uma rotunda amanhada”.


Os ciclos são próprios da vida, das pessoas e das instituições. Há-os melhores e piores, porque as coisas levam o seu tempo. Entre assentar arraiais, concertar posições e conciliar opiniões (dentro do possível), lançar mãos à obra e terminar para inaugurar, há caminho que importa fazer respeitando ritmos próprios.

A quem faça oposição com este tipo de calendário, normalmente definido por quem está no governo, só esperneando com o entoar de uma ladainha fácil também nesta altura, é porque andou distraído. Por vezes, até a contribuir para algumas decisões apressadas, ajudando ao disparate, resultando mais em saloice do que como resultado de qualquer outro tacticismo, que bem podia jogar-se com dois dedos de testa aliados a um pingo de dignidade e respeito. Para explicar melhor esta crítica, hei-de falar na altura própria, em que talvez aconteça uma iniciativa que, normalmente, se adjectiva com a pirosa expressão de “sentida homenagem”. Se esse dia, já aprovado, não se der com as habituais honras de corta-fita, prefiro homenagear quem merece com o silêncio, uma das formas de memória que as pedras também me ensinaram a exercitar.

Mas voltando à prática dos calendários eleitorais, e reagindo ao noticiado também aqui pela Diana, sobre o anunciado 1o Encontro de Évora Cidade Educadora, lá para meados deste mês . Era importante que a vereadora do pelouro, até da mesma dinastia Fernandes que integrou Évora nessa interessante rede internacional de Cidades, nos idos do ano 2000, dissesse de que temporada é este primeiro episódio de um Encontro promovido no âmbito da Rede. Claro que poderá sempre argumentar que o que houve foi um grande Congresso internacional (e não, eu não tive nada a ver com esse Congresso), várias jornadas ou conferências ou outro tipo de iniciativas, mas que Encontro, assim com maiúscula e tudo, este é o primeiro dos primeiros. Mas este seria argumento pouco sério, a contribuir para a descredibilização de calendários cíclicos justificáveis. Mesmo disfarçando que era para se ter dado em 2020, mas que “derivado ao Covid”....

Acaba-se, assim, a promover a crítica fácil do “eles são todos iguais e querem é poleiro”. E pior ainda, pondo um leque de pessoas interessantes, verdadeiramente interessadas em Educação e Cidadania mas desatentas a estes expedientes, a pactuarem com a pacovice de um numerozinho sob forma de evento muitíssimo extraordinário. Enfim, perdoa-se o ilusionismo da cena, pela esperança de que permita que não se esqueça que os lugares a que chamamos Cidades podem ser maiores do que a meia-dúzia de pessoas que lhes medem os dias, contra outra meia-dúzia que só invertem a ordem da contagem. Tramado mesmo é quando só existe uma dúzia de pessoas a interessar-se em que uma Cidade cresça com o melhor do resto do Mundo.