9.3.21

O Dia Internacional da Mulher 2022

 Dias como o 8 de Março assinalam direitos conquistados, liberdades que se respeitam entre si e garantias de que o sentido do progresso civilizacional não se inverta. Celebram-se para recordar não apenas o Passado que se mudou e quem o mudou, mas para lembrar o que tem de ser feito, diariamente, a propósito do que se assinala.


Este ano, a melhor prenda que recebi por estes dias de Março, e no que respeita à escolha de mulheres para lugares em que ambos se mereçam, foi a Lídia Jorge no Conselho de Estado (como não perceber a escolha quando se conhece a sua obra) e, surpresa boa, a Djaimila Pereira de Almeida para consultora da Casa Civil da Presidência da República. Procurem o nome desta jovem para saberem quem é, se não sabem, encontrem os livros dela e leiam-nos que darão o tempo por bem empregue. Desejo que a Djaimilia possa fazer um bom trabalho em prol da integração e inclusão social no País dela que é também o meu.

Mas eu queria celebrar o Dia Internacional da Mulher com todos. E todas, como manda a retórica do século.
Com mulheres, homens e transgénero. De todas as gerações, de todas as orientações - ideológicas, religiosas, sexuais -, de todas as profissões, de todos os clubes, de todas as regiões, de todos os Partidos. Gente com ou sem família, com ou sem estudos. Pessoas sobredotadas, incapacitadas ou até prendadas.

Queria celebrar com todos, mesmo sabendo que não somos todos iguais. Não podemos e, no fundo, não queremos ser todos iguais, porque na diversidade há mais lugar para cada um. E cada uma. Mas queria celebrar com quem se sentisse, ou estivesse prestes a sentir-se, ou começasse a pensar em fazer por se sentir, bem no seu lugar ou no lugar para onde se mudou, mudará ou que ainda anda à procura.

Queria celebrar com quem não usa a pele do género - ou da cor, ou do estudo, ou da conta bancária, ou da compleição física, ou, ou...- que veste, para se despir de outros valores que nada têm a ver com o seu sexo, o seu género, a sua identidade. Queria celebrar com quem não perde o seu tempo a mostrar o cisco no olho do outro para que não reparem na trave que tem o seu. Queria celebrar com quem é capaz de deixar que outros, os que vêm por bem, de peito aberto, vistam a pele de mulher, e sintam as dores e festejem as alegrias, e lutem por causas que tomam para si como se fossem suas. Causas que não fomentem a violência, que não promovam atavismos cheios de inércia, que não exacerbem divisões, nem estimulem extremos ou exclusivismos étnicos, culturais, religiosos.
Eu queria celebrar o Dia Internacional da Mulher com estes todos e estas todas. Os outros todos e as outras todas escusam até de me convidar para a festa. Eu queria comemorar e fazê-lo politicamente. E correctamente. Posso?