16.3.21

O desconfi(n)ar da Academia

 Sói chamar-se Academia às instituições de ensino superior, sejam Universidades ou Politécnicos, cada uma com princípios fundadores distintos, que condicionam as respectivas missões e lugares na sociedade do Conhecimento.


Vou falar a partir do meu lugar de pertença, a Universidade. E a partir da que traz a Évora e envia de Évora, pessoas com perfis cujas formações e missões são tão universais como o nome comum da própria instituição. Faço-o, nesta primeira semana do início de um segundo desconfinamento da I Grande Pandemia do século XXI e aviso: assim como escrevo estas crónicas com a ortografia tal como a aprendi em pequenina, o que não faço noutros contextos públicos oficiais e científicos, o que digo nesta crónica de opinião só me vincula a mim. E não é uma questão de fazer algum tipo de gala em outorgar-me a insígnia de “fora-da-lei”, porque sigo as regras com que se cose quem sirvo e quem me remunera. Faço-o porque posso, sem condicionar os outros. De resto, discordando das regras, a democracia permite-nos encetar todos os esforços para tentar mudar aquelas regras de que discordamos, mais em sentido colectivo do que corporativo, ou seja, só porque dão jeito a alguns. O que é muito mais difícil.

A Pandemia está a ser, para além de um desastre sanitário para a Humanidade, um desafio para as instituições. Desconfinar é um processo que revela a preparação e as suas capacidades, e a Academia não é excepção. Trata-se de uma oportunidade para demonstrar, com a sua posição natural, mas também constantemente conquistada, de vanguarda, a adaptação às novas circunstâncias da sociedade, mantendo a sua missão.

Importará, neste desconfinamento, avaliar as circunstâncias externas, as que condicionam a nova vida em sociedade: higiene, distância física mas não social, acesso, em condições de igualdade de oportunidade, no caso da Universidade, à produção e transmissão de Conhecimento. Mais do que nunca, importa olhar e ver as condições internas que permitem, no desconfinamento, manter o mesmo nível de credibilidade que conquistaram. Será mesmo oportuno aproveitar as mudanças das tais circunstâncias externas, para mudar práticas, investimento e regulamentos, efectivamente compagináveis com o novo contexto pandémico. Só assim desconfinar na Academia permitirá que a sociedade continue, ou melhore, a confiança no que por lá, ou cá, se faz.

Talvez volte ao assunto, um dia mais tarde, espero que para louvar um processo cooperativo, em que a conversa de um caminho para a excelência não oblitere a concretização realista. E que o melhor possível reflicta mesmo as boas qualidades dos que se empenham em boas soluções, com muitos e bons resultados. Também é disto que se alimenta a confiança.